sexta-feira, 5 de julho de 2024

Frustração do povo fragiliza o governo e ameaça à democracia

As fakenews não são ameaças maiores para a democracia e o governo Lula do que a frustração do povo com o próprio governo. Nós, petistas, já deveríamos ter aprendido que o que mais afeta o humor e a opinião política do povo não é nenhuma informação que lhe deem, é a percepção que o próprio povo tenha de melhora, não melhora ou piora das suas condições de vida. A melhora cria boas expectativas para o futuro e gera otimismo, confiança e desejo de continuidade política. A piora ou não melhora, ao contrário, criam expectativas ruins e provocam pessimismo, desconfiança e desejo de mudança.

Sobre a percepção da vida que tem, o povo não se engana e não se deixa enganar, não há como criar fakenews, porque é algo que o povo sente na pele, não precisa ninguém dizer. Não dá pra dizer pro povo que a vida dele piorou ou não melhorou quando ele sente que melhorou e não dá pra dizer que melhorou, quando o povo sente que piorou ou não mudou quase nada.

Isso quer dizer que as fakenews são politicamente inofensivas? Não. Quer dizer que as fakenews não são determinantes na formação da opinião pública. Um bom exemplo disso é a eleição de 2006, quando Lula foi reeleito enfrentando uma onda de fakenews muito maior do que a atual, sem dispor dos mesmos meios de defesa que tem hoje. 

E por que aquela fortíssima propaganda negativa não alcançou o seu objetivo que era claramente derrubar o então presidente ou impedir a sua reeleição? 

Porque o povo sentiu tão intensamente a melhora das suas condições de vida que desconsiderou as acusações de corrupção contra o presidente e seu partido. Primeiro, quando foi questionado sobre a sua aprovação ou desaprovação ao governo pelas pesquisas de opinião. E, depois, na hora do voto.

A aprovação crescente do governo em meio ao massacre diário que sofria nos noticiários desconcertava a centro-direita e foi certamente o que a dissuadiu de avançar com o projeto do golpe de Estado.

Muita gente não sabe, mas o vice-presidente José Alencar chegou a ser consultado pela oposição de centro-direita se aceitaria assumir a presidência caso tivesse êxito uma tentativa de impeachment de Lula. Alencar recusou. 

Portanto havia mesmo uma intenção golpista que foi desencorajada exatamente pela aprovação do povo ao governo nas pesquisas.

A satisfação do povo é o melhor antídoto contra o veneno das fakenews e é a única maneira de se preservar e ampliar o apoio do povo a um governo. 

Mas a satisfação do povo só pode ser alcançada pelas ações do governo. Só pelas ações, não pelos discursos. O discurso ajuda quando corresponde à percepção do povo. Quando não corresponde é simplesmente inútil. 

Fakenews sobre a vida do povo não cola e não gera insatisfação nem satisfação. O que gera satisfação ou insatisfação é a eficácia ou ineficácia do governo como agente transformador da vida das massas e como promotor da sua prosperidade. 

Espaço para a mentira só há efetivamente na justificativa da melhora, não melhora ou piora das condições de vida do povo, na indicação das causas e dos causadores das mudanças ou não mudanças havidas. 

Mas esse tipo de fakenews só têm alguma influência no humor e na opinião política do povo quando o povo já está muito insatisfeito com o governo, seja por não sentir melhora ou por sentir piora das suas condições de vida. 

O povo insatisfeito só mantém o apoio ao governo quando entende e concorda com as justificativas para o mau desempenho do governo. Quando o povo não entende ou não concorda com as justificativas do governo, deixa de apoiá-lo e procura alternativa na oposição.

Mas quanto de melhora é necessária para satisfazer o povo, para receber sua aprovação e conquistar o seu apoio? Qualquer melhora é suficiente? 

Não. Tem que ser uma melhora tão fortemente sentida que possa ser lembrada como uma conquista importante que precisa ser preservada na hora que o povo tiver que se posicionar politicamente, seja numa eleição ou quando for chamado a se manifestar nas ruas.

Se a melhora for tão pouca que não faça diferença, tão fraca que o povo quase nem sinta, a insatisfação é que vai prevalecer. E a insatisfação é o que deixa o povo mais vulnerável ao veneno das fakenews contra o governo.

Quando o povo está satisfeito, as fakenews contra o governo afetam muito menos o seu humor e a sua opinião política do que quando está insatisfeito. 

Por isso, mais necessária do que o combate às fakenews é a imunização da opinião pública contra os efeitos das fakenews com o antídoto da satisfação do povo, através de uma gestão governamental que corresponda ou supere às suas expectativas.

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