segunda-feira, 8 de julho de 2024

DATAFOLHA: Maioria expressiva considera que sua vida não melhorou desde a posse de Lula

A pesquisa "Avaliação de um ano e seis meses do presidente Lula", divulgada pelo instituto Datafolha em 19 de junho, trata dos dois fatores mais importantes para se avaliar o humor e a tendência da opinião pública em relação ao governo, que são as expectativas e principalmente as percepções dos entrevistados quanto à qualidade das suas vidas e quanto à economia do país.

Comparando com as pesquisas anteriores deste mesmo instituto, não houve nenhuma variação importante desde o começo do mandato do presidente. 

Por enquanto, a maioria dos entrevistados mantém-se otimista e acredita que a sua vida e a vida do país vão melhorar. 

Mas o que deveria preocupar muito ao PT, à esquerda e ao governo é que uma expressiva maioria dos entrevistados considera que a sua vida pessoal e a vida do país não melhoraram absolutamente nada desde a posse do presidente Lula.

As percepções dos entrevistados sobre as suas próprias vidas e sobre a vida do país foram sondadas por três perguntas. Duas sobre a vida pessoal do entrevistado e uma sobre como o entrevistado avalia a situação econômica do país. 

À pergunta se "após a posse do presidente Lula, você diria que sua vida melhorou, permaneceu igual ou piorou?", 26% responderam que "melhorou". Mas 21% responderam que "piorou" e 52% responderam que "permaneceu igual".

Ora, uma situação que piora ou permanece igual é uma situação que não melhora.

Portanto, somados os 21% que acham que a sua vida piorou com os 52% que acham que a sua vida permaneceu igual, temos que 73% dos entrevistados consideram que a sua vida não melhorou desde a posse de Lula.

À pergunta se "nos últimos meses, a sua situação econômica melhorou, piorou ou ficou como estava?", 29% responderam que "melhorou". Mas 24% responderam que "piorou" e 47% responderam que "ficou como estava". 

Uma situação que piora ou fica como estava é uma situação que não melhora.

Portanto, somados os 24% que acham que a sua situação econômica piorou com os 47% que acham que a sua situação econômica ficou como estava, temos que 71% dos entrevistados consideram que a sua situação econômica nos últimos meses não melhorou.

E à pergunta se "nos últimos meses, a situação econômica do país melhorou, piorou ou ficou como estava?", 27% responderam que "melhorou". Mas 42% responderam que "piorou" e 29% responderam que "ficou como estava".

De novo, uma situação que piora ou fica como estava é uma situação que não melhora.

Portanto, somados os 42% que acham que a situação econômica do país piorou com os 29% que acham que a situação econômica do país ficou como estava, temos que 71% dos entrevistados consideram que a situação econômica do país nos últimos meses não melhorou.

Resumindo:

- 73% dos entrevistados consideram que a sua vida não melhorou desde a posse de Lula.

- 71% dos entrevistados consideram que a sua situação econômica nos últimos meses não melhorou.

- E 71% dos entrevistados consideram que, nos últimos meses, a situação econômica do país também não melhorou.

NÃO MELHORA 

Proponho o indicador da percepção de "não melhora", somando as percepções de ausência de mudança com as percepções de mudança negativa (piora), porque ambas representam insatisfação e frustração com o desempenho do governo, já que, obviamente, todo povo elege presidentes da república com a expectativa de que promovam mudanças positivas no país e na vida de cada pessoa. 

Considero, por isso, que as percepções de ausência de mudança e de mudança negativa, quando somadas como percepções de "não melhora", expressam uma avaliação bem mais exata do grau de desaprovação do povo ao governo do que a percepção de mudança negativa tomada isoladamente. Porque, evidentemente, a percepção de não mudança, numa realidade considerada ruim, também não deixa de ser uma avaliação negativa do desempenho do governo. 

ESTABILIDADE NAS AVALIAÇÕES 

Esta é a quinta pesquisa sobre a avaliação do presente mandato de Lula. A primeira foi feita nos dias 29 e 30/03/23. A segunda nos dias 12 e 13/09/23. A terceira em 05/12/2023. A quarta nos dias 19 e 20/03/24. E a quinta, mais recente, foi feita de 04 a 13/06/24.

O relatório desta última pesquisa indica que os percentuais para as opções de respostas da primeira pergunta - se "após a posse do presidente Lula, você diria que sua vida melhorou, permaneceu igual ou piorou?" - foram praticamente iguais aos da primeira. 

Na primeira pesquisa, a vida "melhorou" para 25%, depois da posse de Lula.

Na mais recente "melhorou" para 26%. 

Na primeira pesquisa, a vida "permaneceu igual" para 56%.

Na mais recente, para 52%.

Na primeira pesquisa, 20% responderam que "piorou".

Na mais recente, 21%.

Somando os que acham que a sua vida "permaneceu igual" com os que consideram que a sua vida "piorou", temos que a vida não melhorou para 76%, na primeira pesquisa, e para 73% dos entrevistados na pesquisa mais recente. 

Já para a segunda pergunta - se "nos últimos meses, a sua situação econômica melhorou, piorou ou ficou como estava?" -, o relatório da pesquisa informa os percentuais para as mesmas opções de respostas nas quatro sondagens anteriores, além da atual. 

Melhorou (%)
23, 30, 35, 28, 29

Piorou (%)
27, 26, 26, 28, 24

Ficou como estava (%)
50, 44, 38, 44, 47

Somando o percentual dos entrevistados de cada pesquisa que acham que a sua situação econômica piorou com o percentual dos que acham que a sua situação econômica ficou como estava, temos que:

Não melhorou (%)
77, 70, 64, 72, 71

Para a terceira pergunta - se "nos últimos meses, a situação econômica do país melhorou, piorou ou ficou como estava?" -, o relatório da pesquisa também informa os percentuais para as opções de respostas nas quatro sondagens anteriores, além da atual. 

Melhorou (%)
26, 35, 33, 28, 27

Piorou (%)
35, 35, 35, 41, 42

Ficou como estava (%)
41, 28, 29, 30, 29

Somando o percentual dos entrevistados de cada pesquisa que acham que nos últimos meses a situação econômica do país piorou com o percentual dos que acham que a situação econômica do país ficou como estava, temos que:

Não melhorou (%)
76, 63, 64, 70, 71

Não houve, como se vê, nenhuma variação importante desde o começo do mandato do presidente. Há uma relativa estabilidade nos índices de percepção de não melhora. E são índices altos.

EXPECTATIVAS

As expectativas dos entrevistados sobre as suas próprias vidas e sobre a vida do país foram sondadas por duas perguntas. Uma sobre a situação econômica do entrevistado e outra sobre a situação econômica do país. 

Para a pergunta se "nos próximos meses, a sua situação econômica vai melhorar, vai piorar ou vai ficar como está?", as respostas dos entrevistados foram as seguintes, nas cinco pesquisas de avaliação até agora realizadas do governo Lula:

Vai melhorar (%)
56, 55, 62, 53, 55,

Vai piorar (%)
14, 12, 10, 13, 12

Vai ficar como está (%)
28, 31, 26, 32, 31

Somando o percentual dos entrevistados de cada pesquisa que acham que a sua situação econômica vai piorar com o percentual dos que acham que a sua situação econômica vai ficar como está, temos que:

Não vai melhorar (%)
42, 33, 36, 45, 43

Minha interpretação desses números:

Estabilidade de uma expectativa otimista. 

Para a pergunta se "nos próximos meses, a situação econômica do país vai melhorar, vai piorar ou vai ficar como está?", as respostas dos entrevistados foram as seguintes, nas cinco pesquisas de avaliação até agora realizadas do governo Lula:

Vai melhorar (%)
46, 41, 47, 39, 40

Vai piorar (%)
26, 28, 22, 27, 28

Vai ficar como está (%)
26, 29, 29, 32, 27

Somando o percentual dos entrevistados de cada pesquisa que acham que a situação econômica do país vai piorar com o percentual dos que acham que a situação econômica do país vai ficar como está, temos que:

Não vai melhorar (%)
52, 57, 51, 59, 55

Minha interpretação desses números:

Estabilidade de uma expectativa pessimista.

MINHA OPINIÃO

Parto do pressuposto de que expectativas são produtos de percepções persistentes; de que toda insatisfação persistente gera expectativas ruins, pessimismo e desconfiança enquanto, ao contrário, toda satisfação persistente gera boas expectativas, otimismo e confiança.

Dito de outra forma: parto do pressuposto de que toda insatisfação persistente puxa expectativas para baixo e de que toda satisfação persistente puxa expectativas para cima. 

Por isso acredito que se a elevada percepção de "não melhora", indicada pelo Datafolha, continuar, ela vai acabar derrubando o otimismo ainda existente e a expectativa quanto ao que o governo ainda possa oferecer, criando as condições para o crescimento da oposição. 

sábado, 6 de julho de 2024

Para o povo, prosperidade vale mais que ideologia e moral

"Ninguém come PIB", disse Conceição. E eu, concordando com ela, acrescento: nem ideologia e nem moralismo.

Porque, em sã consciência, realmente ninguém troca um governo que proporciona uma sensação de grande e contínua prosperidade por um que conserva ou agrava uma sensação de estagnação ou decadência, só porque esse mau governo é um bom fiscal de costumes e o outro é mais permissivo. 

Ou só porque esse mau governo busca com mais empenho o equilíbrio fiscal e o outro não tem o equilíbrio fiscal como prioridade.

Ideologia e moralismo não mudam a vida material de ninguém e não resistem a um choque mais forte com a realidade. 

O povo julga os governos pela prosperidade que proporcionam ou deixam de proporcionar. 

A percepção de prosperidade, estagnação ou decadência é o que mais influencia o seu humor e a sua atitude política.

Quanto maior for a percepção do povo de estar prosperando em razão das ações do governo, menor será a influência de qualquer discurso da oposição na definição do seu posicionamento político.

Mas quanto maior for a percepção do povo de estagnação ou decadência das suas condições de vida em razão de equívocos, insuficiências ou omissões do governo, maior será a influência de qualquer discurso da oposição na definição do seu posicionamento político, inclusive os discursos ideológico e moralista, que são muito mais expressões de insatisfação do que propriamente eixos de um programa alternativo de governo. 

Economia, o povo não sabe, o povo sente

O PT e o governo não precisam informar para o povo o que o povo já sabe porque sente na pele. Muito menos tentar fazê-lo usando linguagem técnica e citando feitos cujo significado o povo ignora. 

Dados da macro-economia significam alguma coisa para quem entende de macro-economia. O povo não entende de macro-economia. Da macro-economia o povo apenas sente os efeitos.

Talvez por isso a economista Maria da Conceição Tavares disse que "ninguém come PIB, come alimentos". Porque, para o povo, indicadores econômicos realmente não significam nada.

Bons indicadores podem gerar boas expectativas para os economistas. Mas, para o povo, a percepção da realidade vivida é que importa. 

Não há indicador econômico que convença o povo de que a sua vida está melhorando quando o povo sente na pele que não está. 

Por isso o discurso do PT e do governo Lula deve dialogar antes com a percepção do povo do que com os dados dos economistas. Senão esse discurso cai no vazio, por falta de receptividade. 

O fato indiscutível de os indicadores econômicos não representarem nada para o povo significa, obviamente, que eles não têm o menor valor político. São politicamente irrelevantes. 

Mas então de que adianta o governo e o PT citá-los nos seus discursos dirigidos ao povo? 

Os indicadores econômicos, quando muito, podem explicar para os que entendem de economia um momento de satisfação ou insatisfação do povo com o governo. Mas não criam satisfação ou insatisfação.

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Frustração do povo fragiliza o governo e ameaça à democracia

As fakenews não são ameaças maiores para a democracia e o governo Lula do que a frustração do povo com o próprio governo. Nós, petistas, já deveríamos ter aprendido que o que mais afeta o humor e a opinião política do povo não é nenhuma informação que lhe deem, é a percepção que o próprio povo tenha de melhora, não melhora ou piora das suas condições de vida. A melhora cria boas expectativas para o futuro e gera otimismo, confiança e desejo de continuidade política. A piora ou não melhora, ao contrário, criam expectativas ruins e provocam pessimismo, desconfiança e desejo de mudança.

Sobre a percepção da vida que tem, o povo não se engana e não se deixa enganar, não há como criar fakenews, porque é algo que o povo sente na pele, não precisa ninguém dizer. Não dá pra dizer pro povo que a vida dele piorou ou não melhorou quando ele sente que melhorou e não dá pra dizer que melhorou, quando o povo sente que piorou ou não mudou quase nada.

Isso quer dizer que as fakenews são politicamente inofensivas? Não. Quer dizer que as fakenews não são determinantes na formação da opinião pública. Um bom exemplo disso é a eleição de 2006, quando Lula foi reeleito enfrentando uma onda de fakenews muito maior do que a atual, sem dispor dos mesmos meios de defesa que tem hoje. 

E por que aquela fortíssima propaganda negativa não alcançou o seu objetivo que era claramente derrubar o então presidente ou impedir a sua reeleição? 

Porque o povo sentiu tão intensamente a melhora das suas condições de vida que desconsiderou as acusações de corrupção contra o presidente e seu partido. Primeiro, quando foi questionado sobre a sua aprovação ou desaprovação ao governo pelas pesquisas de opinião. E, depois, na hora do voto.

A aprovação crescente do governo em meio ao massacre diário que sofria nos noticiários desconcertava a centro-direita e foi certamente o que a dissuadiu de avançar com o projeto do golpe de Estado.

Muita gente não sabe, mas o vice-presidente José Alencar chegou a ser consultado pela oposição de centro-direita se aceitaria assumir a presidência caso tivesse êxito uma tentativa de impeachment de Lula. Alencar recusou. 

Portanto havia mesmo uma intenção golpista que foi desencorajada exatamente pela aprovação do povo ao governo nas pesquisas.

A satisfação do povo é o melhor antídoto contra o veneno das fakenews e é a única maneira de se preservar e ampliar o apoio do povo a um governo. 

Mas a satisfação do povo só pode ser alcançada pelas ações do governo. Só pelas ações, não pelos discursos. O discurso ajuda quando corresponde à percepção do povo. Quando não corresponde é simplesmente inútil. 

Fakenews sobre a vida do povo não cola e não gera insatisfação nem satisfação. O que gera satisfação ou insatisfação é a eficácia ou ineficácia do governo como agente transformador da vida das massas e como promotor da sua prosperidade. 

Espaço para a mentira só há efetivamente na justificativa da melhora, não melhora ou piora das condições de vida do povo, na indicação das causas e dos causadores das mudanças ou não mudanças havidas. 

Mas esse tipo de fakenews só têm alguma influência no humor e na opinião política do povo quando o povo já está muito insatisfeito com o governo, seja por não sentir melhora ou por sentir piora das suas condições de vida. 

O povo insatisfeito só mantém o apoio ao governo quando entende e concorda com as justificativas para o mau desempenho do governo. Quando o povo não entende ou não concorda com as justificativas do governo, deixa de apoiá-lo e procura alternativa na oposição.

Mas quanto de melhora é necessária para satisfazer o povo, para receber sua aprovação e conquistar o seu apoio? Qualquer melhora é suficiente? 

Não. Tem que ser uma melhora tão fortemente sentida que possa ser lembrada como uma conquista importante que precisa ser preservada na hora que o povo tiver que se posicionar politicamente, seja numa eleição ou quando for chamado a se manifestar nas ruas.

Se a melhora for tão pouca que não faça diferença, tão fraca que o povo quase nem sinta, a insatisfação é que vai prevalecer. E a insatisfação é o que deixa o povo mais vulnerável ao veneno das fakenews contra o governo.

Quando o povo está satisfeito, as fakenews contra o governo afetam muito menos o seu humor e a sua opinião política do que quando está insatisfeito. 

Por isso, mais necessária do que o combate às fakenews é a imunização da opinião pública contra os efeitos das fakenews com o antídoto da satisfação do povo, através de uma gestão governamental que corresponda ou supere às suas expectativas.