sábado, 23 de julho de 2016

Do jeito que estamos, só as pesquisas nos salvam.

O clima no campo da esquerda não anda bom. Eu disse no post anterior que a esquerda foi tomada por um ansioso imobilismo, mas o que há mesmo é um imobilismo angustiado. Este imobilismo não resulta de uma decisão, mas da desmotivação gerada pelo fracasso da estratégia adotada pela resistência democrática, que não conseguiu conquistar a adesão da maioria mais pobre da classe da trabalhadora, e da incompreensível insistência da maior parte das direções em continuar com essa mesma estratégia ineficaz, que mantém a esquerda isolada das massas. Já a angústia da esquerda, nasce e se alimenta do pessimismo crescente quanto à possibilidade de vitória no julgamento do impeachment, assim como da crescente consciência quanto ao caráter autoritário do governo Temer e quanto à real perspectiva dele se estabelecer como ditadura.

É sintomático dessa perda de confiança que o "não vai ter golpe" tenha sumido, dando lugar ao "fora Temer". Não discordo que haja razão pro pessimismo. Mas penso que há razão também para otimismo e que ambas precisam ser consideradas para se ter uma visão mais equilibrada da realidade e fazer prognósticos mais precisos. E a maior razão para se ser otimista é que falta um número muito pequeno mesmo de votos para o impeachment ser derrotado no senado. Dilma já conta com 22 certos a seu favor, dos senadores que votaram contra a admissibilidade do processo de impeachment. Como o senado tem 81 membros, ela precisa conquistar o voto de apenas 6 senadores do universo restante, de 59, para atingir os 28 votos necessários. Isso representa 10% dos que votaram a favor da admissibilidade. Não é tanta coisa assim que se possa julgar impossível, ainda mais quando se leva em conta os fatores que podem ser determinantes na decisão final dos senadores, que a meu ver são três:
1 - a convicção da inocência de Dilma quanto às acusações que lhe são imputadas;

2 - a percepção de uma opinião pública muito desfavorável ao governo de Michel Temer; e

3 - a possibilidade de se antecipar a eleição presidencial, correspondendo à vontade da maioria do povo, segundo as pesquisas.
Pois a inocência de Dilma já foi cabalmente comprovada, a rejeição a Temer na sociedade tem se mostrado altíssima e crescente e a presidenta já admitiu antecipar sua sucessão, desde que seja este o desejo do povo, manifestado por meio do voto, num plebiscito, depois que ela for reempossada. E a fraude do Datafolha mostra de maneira inequívoca que, para a direita, a antecipação da eleição é mesmo a maior inimiga do golpe. Tentaram ocultar a preferência do povo exatamente porque sabem que este dado pode influenciar a decisão final dos senadores, favoravelmente a Dilma. Só a esquerda míope não enxerga isso.

As massas gritam "eleição já" através das poucas pesquisas que lhes tem dado voz. E enquanto a direita tenta lhes calar, para que os senadores não ouçam, a esquerda finge que não ouve. Se ao invés disso a esquerda levasse para a rua esse grito que só as pesquisas registram, a resistência democrática se ampliaria, conquistando as mobilizações a adesão dos mais pobres e dando motivos ainda maiores para os senadores votarem contra o impeachment. Porque só a volta de Dilma possibilitaria a abertura de um debate nacional e convocação de um plebiscito sobre a antecipação da eleição presidencial que o povo deseja. Com isso abortaria-se o projeto golpista de implantação no Brasil de uma ditadura neoliberal e daria-se a Dilma tempo e meios para, governando, retomar o diálogo com as massas e recuperar sua confiança e apoio.

Não são esperanças vãs que alimento, são expectativas perfeitamente plausíveis de desenvolvimento do processo político, a partir da escolha de se transferir o julgamento político de Dilma do senado para a sociedade, dando ao povo o poder de decisão sobre a manutenção ou não do seu mandato. Porque o clamor do povo pela antecipação da eleição nas pesquisas expressa, na verdade, um anseio por mudanças, mas mudanças que só um governo de esquerda pode realizar. E é isso exatamente que o debate público sobre programas de governo e sobre as realizações dos mandatos presidenciais petistas demonstraria ao longo da campanha de um eventual plebiscito, como demonstrou nas quatro eleições presidenciais passadas, em que o PT foi vitorioso.

Derrotar o golpe ainda é possível, não há porque perder a esperança, apesar da miopia da esquerda. Seria mais fácil se houvesse na rua manifestações pela antecipação da eleição ou pela realização do plebiscito sobre ela. Mas isso parece que a maior parte das direções da esquerda não quer. Felizmente a opinião pública não se expressa só através de mobilizações, se expressa também através das pesquisas, que muitos políticos tomam como referências para orientar suas atuações. Cada pesquisa que sai dando conta de que o povo quer votar já faz tremer a direita de horror e até cometer desatinos, como este recente da Folha, porque a direita sabe que esta informação pode mudar o voto de 6 senadores, que antes apoiavam o impeachment.

De modo que, com a esquerda completamente parada, em angustiada, por impotente, expectativa, uma só esperança resta de conquistar os votos que faltam para derrotar o impeachment. Que muitas pesquisas haja para que os senadores ouçam o clamor do povo por mudanças, através de uma eleição imediata. Pois que as entidades do movimento democrático e popular encomendem e divulguem estas pequisas. Porque do jeito que está se comportando a esquerda, só as pesquisas podem impedir a consumação do golpe e o estabelecimento no país de uma ditadura.

Silvio Melgarejo

23/07/2016

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