quinta-feira, 28 de julho de 2016

O silêncio das panelas é uma homenagem do egoísmo social à corrupção que lhe presta serviços.

As panelas silenciaram, sumiram desde que Dilma foi afastada e assumiu Michel Temer. Meses atrás, batiam como loucas, de raiva, nas varandinhas dos apartamentos dos ricos ou metidos a ricos, com a justificativa de que não suportavam mais a corrupção no governo. No governo "do PT", diziam, só do PT. Como se o PT governasse sozinho, como se do governo não tomassem parte, ocupando ministérios e outros cargos, vários partidos; como se estes partidos não tivessem o envolvimento que comprovadamente têm com a corrupção; como se só houvesse corrupção na administração federal e como se esta corrupção tivesse começado com a chegada do PT à presidência da república.

Os paneleiros - aqueles que batiam panelas - sempre reconheceram, quando questionados, que o PT não é mesmo o único responsável pela corrupção no país. Mas diziam e dizem, sem nenhum respaldo em fatos, que não é o único, mas é o maior. Só ao PT qualificam como organização criminosa, embora todas as grandes legendas tenham comprovada e maior participação em grandes esquemas ilícitos. Não se chama de quadrilha ao PSDB, ao DEM, ao PMDB, PP, PSB, PSD e PPS, embora se saiba de mensalões, trensalões, petrolões e outras roubalheiras de todos. Os paneleiros não têm por estes partidos ódio, como têm pelo PT, ao contrário, são até seus eleitores. Convencionou-se chamar esta diferença de atitude ante a corrupção, conforme o autor, de "indignação seletiva". Mas a que se deverá, realmente, este ódio ao PT?

Mesmo sendo o mais investigado dos partidos, não se conseguiu, até hoje, nem de longe, comprovar que o PT seja o partido mais corrupto. Porque não é, nunca foi, em realidade. Há quem acredite nesta mentira por falta de informação e senso crítico, mas há também quem a propague conscientemente, movido por interesses pessoais, de classe e por ideologia. São quase sempre pessoas de direita e a característica que melhor define o indivíduo de direita é o egoísmo social. Os paneleiros golpistas são, indiscutivelmente, de direita. A direita abomina a igualdade social defendida pela esquerda, por isso odeia tanto o PT, que foi, na esquerda, o partido que mais avanços fez na realização deste ideal e que mais condições ainda tem, a despeito dos erros cometidos e de todas as agressões sofridas, para continuar avançando, por ter alcançado influência de massas. E esta influência de massas, é preciso que se reconheça, deve-se aos significativos acertos que teve, que resultaram em ações de governo amplamente aprovadas pela classe trabalhadora.

Dois personagens da política hoje se enfrentam na luta pelo poder e seus perfis, absolutamente distintos um do outro, revelam o caráter ideológico e moral dos apoiadores que têm. Michel Temer nada mais é do que um corrupto golpista, parceiro de Eduardo Cunha no crime e pau-mandado de empresários bilionários antipatriotas, corruptores e sonegadores de impostos, que só querem saber de lucrar às custas da hiperexploração do suor do povo e da usurpação das riquezas do Brasil. Dilma Rousseff, ao contrário, é uma mulher honesta, cuja integridade ética nem o mais calhorda dos golpistas teve coragem de questionar e contra quem não pesa uma única suspeita sequer de envolvimento em falcatruas. É uma patriota que defende os interesses do Brasil e da classe trabalhadora e uma democrata que respeita a Constituição.

Quem bateu panela para tirar da presidência esta mulher honrada e apoia a captura do poder por um bandido como Temer, tem que lavar muito a boca antes de ousar falar mal dela e do PT, porque não passa de um hipócrita, cúmplice da roubalheira de todos os partidos movidos a propinas pagas pelo empresariado que não vive sem indevidos favores do Estado. Evidente está que os paneleiros não são, nunca foram contra a corrupção, eles são, na verdade, contra a melhoria de vida do povo mais pobre, conquistada pelos governos petistas. Por isso as panelas silenciaram. Porque agora elas se sentem bem representadas. Estão certas de que, com Temer, os pobres voltarão a ser tratados como nos governos anteriores aos presididos pelo PT, e isso basta para que façam de conta que não sabem do esquema de propinas do Porto de Santos, como de tantos outros esquemas noticiados, envolvendo agentes do golpe.

O silêncio das panelas é uma desavergonhada homenagem do egoísmo social à corrupção que lhe presta serviços, expressão da hipocrisia típica da direita de qualquer lugar do mundo e reprodução do seu padrão de conduta em qualquer época. Porque não haveria processo de impeachment e este processo não teria avançado até onde veio se não fosse a ação inescrupulosa de uma legião de políticos corruptos liderados pelo mais notório de todos os corruptos da atualidade, Eduardo Cunha. O golpe de Estado que está em curso no Brasil hoje é obra de deputados e senadores corruptos, encomendada pela burguesia que é, indiscutivelmente, a maior corruptora do planeta. É um golpe parlamentar movido a propina que leva ao poder mercenários encarregados de realizar o mais prejudicial de todos os programas de governo já implementados no Brasil para os interesses do país e da classe trabalhadora. Este programa nunca seria aprovado numa eleição, precisa, por isso, do golpe para ser imposto. E o golpe precisa da colaboração dos políticos corruptos, que as panelas da direita, muito gratas. homenageiam com seu silêncio cúmplice.

Silvio Melgarejo

28/07/2016

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Oração para Temer ir embora (Oração do Fora Temer).

Contra a CORRUPÇÃO no governo. 

FORA TEMER!

Contra a REDUÇÃO do investimento público em SAÚDE e EDUCAÇÃO. 

FORA TEMER!

Contra o CORTE de DIREITOS sociais e trabalhistas. 

FORA TEMER!

Contra o AUMENTO da IDADE MÍNIMA para APOSENTADORIA.

FORA TEMER!

Contra o ARROCHO SALARIAL.

FORA TEMER!

Contra o FIM dos AUMENTOS REAIS do SALÁRIO MÍNIMO.

FORA TEMER!

Contra a ENTREGA do PRÉ SAL às petroleiras ESTRANGEIRAS. 

FORA TEMER!

Contra os JUROS altos.

FORA TEMER!

Pela AUDITORIA CIDADÃ da DÍVIDA PÚBLICA.

FORA TEMER!

Contra o poder político da GLOBO.

FORA TEMER!

Contra o poder político dos BANQUEIROS, agiotas da nação.

FORA TEMER!

Contra o poder político dos CORRUPTOS, CORRUPTORES e SONEGADORES de IMPOSTOS.

FORA TEMER!

Contra o poder político dos BILIONÁRIOS, parasitas do suor do povo.

FORA TEMER!

Contra o poder político dos RACISTAS, MACHISTAS e HOMOFÓBICOS.

FORA TEMER!

Pela democracia. DITADURA, NUNCA MAIS!

FORA TEMER!

Pelo PLEBISCITO sobre a ANTECIPAÇÃO da ELEIÇÃO PRESIDENCIAL.

FORA TEMER!

O POVO DECIDE QUEM GOVERNA.

Que assim seja.

  Silvio Melgarejo                                   

                                           25/07/2016                             

sábado, 23 de julho de 2016

Do jeito que estamos, só as pesquisas nos salvam.

O clima no campo da esquerda não anda bom. Eu disse no post anterior que a esquerda foi tomada por um ansioso imobilismo, mas o que há mesmo é um imobilismo angustiado. Este imobilismo não resulta de uma decisão, mas da desmotivação gerada pelo fracasso da estratégia adotada pela resistência democrática, que não conseguiu conquistar a adesão da maioria mais pobre da classe da trabalhadora, e da incompreensível insistência da maior parte das direções em continuar com essa mesma estratégia ineficaz, que mantém a esquerda isolada das massas. Já a angústia da esquerda, nasce e se alimenta do pessimismo crescente quanto à possibilidade de vitória no julgamento do impeachment, assim como da crescente consciência quanto ao caráter autoritário do governo Temer e quanto à real perspectiva dele se estabelecer como ditadura.

É sintomático dessa perda de confiança que o "não vai ter golpe" tenha sumido, dando lugar ao "fora Temer". Não discordo que haja razão pro pessimismo. Mas penso que há razão também para otimismo e que ambas precisam ser consideradas para se ter uma visão mais equilibrada da realidade e fazer prognósticos mais precisos. E a maior razão para se ser otimista é que falta um número muito pequeno mesmo de votos para o impeachment ser derrotado no senado. Dilma já conta com 22 certos a seu favor, dos senadores que votaram contra a admissibilidade do processo de impeachment. Como o senado tem 81 membros, ela precisa conquistar o voto de apenas 6 senadores do universo restante, de 59, para atingir os 28 votos necessários. Isso representa 10% dos que votaram a favor da admissibilidade. Não é tanta coisa assim que se possa julgar impossível, ainda mais quando se leva em conta os fatores que podem ser determinantes na decisão final dos senadores, que a meu ver são três:
1 - a convicção da inocência de Dilma quanto às acusações que lhe são imputadas;

2 - a percepção de uma opinião pública muito desfavorável ao governo de Michel Temer; e

3 - a possibilidade de se antecipar a eleição presidencial, correspondendo à vontade da maioria do povo, segundo as pesquisas.
Pois a inocência de Dilma já foi cabalmente comprovada, a rejeição a Temer na sociedade tem se mostrado altíssima e crescente e a presidenta já admitiu antecipar sua sucessão, desde que seja este o desejo do povo, manifestado por meio do voto, num plebiscito, depois que ela for reempossada. E a fraude do Datafolha mostra de maneira inequívoca que, para a direita, a antecipação da eleição é mesmo a maior inimiga do golpe. Tentaram ocultar a preferência do povo exatamente porque sabem que este dado pode influenciar a decisão final dos senadores, favoravelmente a Dilma. Só a esquerda míope não enxerga isso.

As massas gritam "eleição já" através das poucas pesquisas que lhes tem dado voz. E enquanto a direita tenta lhes calar, para que os senadores não ouçam, a esquerda finge que não ouve. Se ao invés disso a esquerda levasse para a rua esse grito que só as pesquisas registram, a resistência democrática se ampliaria, conquistando as mobilizações a adesão dos mais pobres e dando motivos ainda maiores para os senadores votarem contra o impeachment. Porque só a volta de Dilma possibilitaria a abertura de um debate nacional e convocação de um plebiscito sobre a antecipação da eleição presidencial que o povo deseja. Com isso abortaria-se o projeto golpista de implantação no Brasil de uma ditadura neoliberal e daria-se a Dilma tempo e meios para, governando, retomar o diálogo com as massas e recuperar sua confiança e apoio.

Não são esperanças vãs que alimento, são expectativas perfeitamente plausíveis de desenvolvimento do processo político, a partir da escolha de se transferir o julgamento político de Dilma do senado para a sociedade, dando ao povo o poder de decisão sobre a manutenção ou não do seu mandato. Porque o clamor do povo pela antecipação da eleição nas pesquisas expressa, na verdade, um anseio por mudanças, mas mudanças que só um governo de esquerda pode realizar. E é isso exatamente que o debate público sobre programas de governo e sobre as realizações dos mandatos presidenciais petistas demonstraria ao longo da campanha de um eventual plebiscito, como demonstrou nas quatro eleições presidenciais passadas, em que o PT foi vitorioso.

Derrotar o golpe ainda é possível, não há porque perder a esperança, apesar da miopia da esquerda. Seria mais fácil se houvesse na rua manifestações pela antecipação da eleição ou pela realização do plebiscito sobre ela. Mas isso parece que a maior parte das direções da esquerda não quer. Felizmente a opinião pública não se expressa só através de mobilizações, se expressa também através das pesquisas, que muitos políticos tomam como referências para orientar suas atuações. Cada pesquisa que sai dando conta de que o povo quer votar já faz tremer a direita de horror e até cometer desatinos, como este recente da Folha, porque a direita sabe que esta informação pode mudar o voto de 6 senadores, que antes apoiavam o impeachment.

De modo que, com a esquerda completamente parada, em angustiada, por impotente, expectativa, uma só esperança resta de conquistar os votos que faltam para derrotar o impeachment. Que muitas pesquisas haja para que os senadores ouçam o clamor do povo por mudanças, através de uma eleição imediata. Pois que as entidades do movimento democrático e popular encomendem e divulguem estas pequisas. Porque do jeito que está se comportando a esquerda, só as pesquisas podem impedir a consumação do golpe e o estabelecimento no país de uma ditadura.

Silvio Melgarejo

23/07/2016

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Golpistas são contra eleição e plebiscito. Por que será?

Em meio ao debate estabelecido na esquerda sobre as propostas de antecipação da eleição presidencial e plebiscito, parto, para me posicionar, da constatação um tanto óbvia de que só existem dois caminhos possíveis para se impedir que o impeachment de Dilma seja aprovado em agosto no senado. Ou através da mobilização social ou por meio de um acordo parlamentar. 

A bandeira ou objetivo que tem o maior potencial para mobilizar a classe trabalhadora hoje é, sem dúvida nenhuma, a antecipação da eleição presidencial, porque este é o desejo da maioria dos trabalhadores, segundo as pesquisas de opinião. E o único acordo parlamentar possível, com potencial para garantir os votos necessários para derrotar o impeachment no senado é o acordo que prevê o apoio de Dilma à convocação de um plebiscito sobre a antecipação da eleição presidencial, após o seu retorno a presidência, exatamente porque os senadores sabem que antecipar a eleição é o desejo da maioria do povo.

Defendi a antecipação da eleição presidencial desde a sessão da Câmara que aprovou a admissibilidade do processo de impeachment, em 17 de abril, até o dia em que foi noticiada a existência da articulação do acordo para a derrota do impeachment no senado em troca do apoio de Dilma à realização de um plebiscito sobre a antecipação da eleição. A partir daí passei a defender o acordo do plebiscito e que, havendo plebiscito, se faça a defesa da permanência de Dilma, ou seja, que se chame o voto contra a antecipação da eleição.

As razões pelas quais eu defendia a antecipação da eleição presidencial eram as seguintes:
1 – O impeachment já estava claramente contratado pela burguesia junto ao legislativo e ao judiciário como um processo exclusivamente político, que despreza a exigência legal e constitucional de comprovação do crime de responsabilidade, caracterizando-se, por isso, como um golpe de Estado.

2 – Este golpe tornou-se inevitável porque a resistência democrática parou de crescer sem conseguir a adesão da maioria da classe trabalhadora.

3 – O golpe é um projeto da burguesia e seu objetivo principal não é a redução do mandato da presidenta Dilma e sim a tomada do poder pela direita para a implementação de um programa de governo que direita e burguesia sabem que seria rejeitado pelo povo em qualquer eleição que fosse apresentado. Numa gravação, Romero Jucá diz que conquistou o apoio dos tucanos ao golpe com este argumento.

4 – O programa de governo dos golpistas, apoiado por todas as entidades empresariais, é não só eleitoralmente inviável, como irrealizável num regime democrático, em razão da forte resistência popular que fatalmente provocaria contra a sua implementação. Por isso o governo Temer, caso empossado em definitivo, deverá ser necessariamente um governo autoritário.

5 – Ante esta clara perspectiva de mudança do regime político do país, com o provável estabelecimento de uma ditadura, passei a avaliar que o objetivo principal da esquerda deveria ser impedir a posse de Michel Temer, passando a recuperação do mandato de Dilma Rousseff à condição de objetivo apenas instrumental ou secundário.

6 – Nesta avaliação, considerei o fato de que a maioria da classe trabalhadora, segundo as pesquisas de opinião, mantinha forte rejeição tanto a Dilma, quanto a Temer, ao mesmo tempo que expressava o seu desejo de mudança através da indicação da preferência pela antecipação da eleição presidencial como saída para a crise do país.

7 – Considerei também o fato de que este apoio popular à ideia de antecipar a eleição presidencial deu origem a uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) com este objetivo, que foi assinada por um grupo de 30 senadores.

8 – Com ampla base social e representação no parlamento, a antecipação da eleição presidencial passou a ser a única proposta com potencial real para mobilizar as massas, botando-as em posição antagônica à posição dos golpistas, num momento em que os golpistas ainda não têm garantida a conquista da presidência da república.

9 – Este potencial para mobilizar a classe trabalhadora foi identificado por alguns setores da esquerda, que passaram a defender a antecipação da eleição, mas também pelos próprios agentes do golpe - Globo, Estadão, Temer, Cunha e Jucá -, que passaram a atacar a proposta com declarações e editoriais indignados, em que chegaram a dizer que "antecipar a eleição, sim, é que seria golpe".

10 – Esta forte reação do golpismo, num coro de condenação do qual só a Folha inicialmente esteve fora, vindo logo a aderir, recompondo a unidade com seus pares, reforçou minha convicção de que a antecipação da eleição presidencial seria mesmo o melhor caminho para derrotar o golpe, impedindo que o golpe atinja o seu real objetivo, que é a tomada do poder para a imposição à classe trabalhadora, através do aparato repressivo do Estado, de um programa de governo radicalmente antinacional e antipopular.
Mas aí surgiu a proposta do plebiscito e ela trouxe uma nova e melhor possibilidade de desfecho para esta etapa conturbada do processo político que estamos vivendo. Porque se a defesa da antecipação da eleição impunha o sacrifício do mandato de Dilma para impedir o advento de uma ditadura, o acordo para o apoio de Dilma ao plebiscito não só pode impedir que a ditadura se instale, como daria a Dilma tempo e meios para tentar reconquistar a confiança dos trabalhadores, através do diálogo e ações de governo, e ter referendado o mandato conquistado em 2014, podendo exercê-lo integralmente até 2018, politicamente revigorada por este novo voto popular.

Tenho dito em textos anteriores que para mim o efeito prático do acordo do plebiscito seria a efetiva transferência do julgamento político de Dilma do senado para a sociedade e que há mais condições para Dilma defender-se e ser absolvida sendo julgada pelo povo do que julgada, como tem sido, pela corja corrupta e reacionária do senado. A direita sabe disso e por isso não quer o plebiscito.

E tenho dito também, em textos anteriores, que para mim o efeito prático tanto da antecipação da eleição presidencial, quanto do plebiscito sobre ela, seria levar a disputa política do país para o campo de batalha que mais favorece a uma vitória da esquerda sobre a direita, que é o campo do debate público sobre programas de governo. É para fugir deste debate, do qual não pode escapar nas campanhas eleitorais, que a direita envereda pelo atalho do golpe. E é por temer enfrentar este debate que a direita rejeita tão veementemente a antecipação da eleição presidencial e o plebiscito. É natural que a direita reaja assim. Mas e a esquerda, do que tem medo, quando rejeita, com o mesmo vigor, estas propostas?

Acredito firmemente que o objetivo da esquerda hoje deva ser, antes de tudo, impedir que a direita se arme com os poderes presidenciais para realizar o seu projeto, que seria o maior ataque aos direitos da classe trabalhadora e à soberania do Brasil já registrado na história do país, que provocaria um retrocesso civilizatório de décadas, quase um século, e que arrastaria a nação para um abismo de barbárie e obscurantismo, do qual só depois de prejuízos humanos incalculáveis poderia um dia, quem sabe, se erguer. 

O Brasil tem diante de si um claro projeto de ditadura que precisa ser interrompido antes que se instale e se imponha ao povo com o peso descomunal do aparato repressivo do Estado, que hoje é infinitamente maior do que o da ditadura inaugurada em 64. Mas, se os dois meios possíveis para se abortar essa ditadura são a mobilização social e o acordo parlamentar, é preciso reconhecer que, nas presentes circunstâncias, um e outro sozinho não tem condições de gerar força política suficiente para alcançar seu objetivo, que só combinados eles se potencializarão mutuamente e ganharão eficácia. E a única ação política capaz de favorecer hoje simultaneamente à mobilização social e a um acordo parlamentar no senado é exatamente o apoio de Dilma e da esquerda à consulta popular sobre a antecipação da eleição presidencial

O povo quer mudanças, por isso apoia a antecipação da eleição. O plebiscito daria a este anseio popular um meio de afirmação. Mas também daria a Dilma e à esquerda tempo e meios para demonstrar que a permanência da presidenta é o caminho mais seguro para as mudanças desejadas. Não é solução mágica, como se vê, já que o poder continuará em disputa. Mas as chances de vitória em qualquer disputa serão sempre tanto maiores, quanto mais favoráveis nos forem as condições do campo de batalha e desfavoráveis ao desempenho do inimigo. O campo de batalha que mais favorece à esquerda, como tenho dito, é o campo do debate público programático imposto pelas campanhas eleitorais. E este plebiscito que tem sido proposto nada mais é do que uma eleição, onde não serão julgados os crimes de responsabilidade atribuídos a Dilma, mas o conjunto da obra dos mandatos presidenciais petistas, desde Lula, e os programas de governo oferecidos pela esquerda e pela direita para o próximo período.

Digo tudo isso para demonstrar que a esquerda tem muito menos razões para temer um processo eleitoral ou plebiscitário do que a direita, o que torna absolutamente sem sentido a unidade de alguns setores com os principais agentes do golpe contra a eleição presidencial e o plebiscito. Como eu já disse, também, num outro texto, não é possível que estas duas propostas favoreçam e desfavoreçam ao mesmo tempo ao golpe de Estado, o que significa que alguém está errado, dando, como se diz, "tiro no pé". E quem estará "dando tiro no pé" quando se opõe ao plebiscito e à antecipação da eleição? Globo, Estadão, Folha, Temer, Cunha, Jucá e Alckmin? Ou CUT, MST, CMP, PT e PCO? Eu não tenho dúvida nenhuma de que errados estão os companheiros da esquerda e que absolutamente corretos estão os estrategistas do golpe.

A direita se opõe à antecipação da eleição e ao plebiscito porque vê nestas propostas uma séria ameaça ao seu projeto de golpe e ditadura neoliberal, na medida em que estas propostas se apresentam como saídas alternativas viáveis ao estabelecimento de um governo cada vez mais reconhecido na sociedade como corrupto, autoritário, antipopular e entreguista, por corresponderem ambas as propostas ao anseio da maioria do povo por mudanças. E sabe a direita que as mudanças que o povo deseja não são as mudanças que ela pretende para o país, porque o povo rejeitou o seu programa de governo em quatro eleições presidenciais consecutivas e reiteradamente o tem rejeitado toda vez que nas pesquisas de opinião exige do Estado saúde, educação, segurança, previdência social e uma política econômica que garanta emprego e renda digna para todos.

O tempo passa e a data do julgamento do processo de impeachment no senado cada vez mais se aproxima, sem que a esquerda defina claramente uma estratégia realmente capaz de influir no seu resultado. Depois da onda de belas, mas insuficientes mobilizações contra o golpe, a esquerda quase toda caiu num ansioso imobilismo, desmotivada pela total indiferença do povo aos reiterados chamados para a luta em defesa da democracia. A resistência democrática parou de crescer, porque não conseguiu com seu discurso a adesão da maioria mais pobre da classe trabalhadora, e com isso o golpe avançou e continua avançando. 

Ante a evidente ineficácia da estratégia que mantém, alguns setores da esquerda, dentre os mais aguerridos opositores do plebiscito e da antecipação da eleição presidencial, já flexibilizam esta posição radical, admitindo que o acordo entre Dilma e os senadores possa contribuir para a derrota do impeachment e até consentindo que este acordo seja estabelecido, mesmo apontando uma série de inconvenientes e limitações e recusando-se a investir na mobilização social em favor da consulta popular. 

Temer vai se equilibrando, com a ajuda da mídia, entre as exigências da burguesia, as cobranças dos sócios de empreitada golpista e as desconfianças do povo. Tentará agradar a todos, não ferindo interesses de quem possa influir no resultado do julgamento de Dilma, até que finalmente tenha alcançado a posição de presidente, pela qual tem lutado. E aí a conversa certamente mudará de tom. Ele mesmo já disse, com todas as letras, num evento com empresários do setor ruralista, que as medidas mais impopulares, só tomará quando assumir a presidência em definitivo. De modo que, quando o povo, hoje apenas desconfiado, sentir na pele os efeitos dessas medidas e tentar expressar nas ruas sua desaprovação, vai descobrir que perdeu também este direito, entre outros tantos, porque o governo Temer será, não tenho dúvida, uma autêntica ditadura.

A esquerda não pode cometer o grave erro de permitir que isto aconteça, abraçada, como está, a uma estratégia falida, baseada num principismo que desconsidera as circunstâncias reais da guerra em que atua. Se houvesse alguma perspectiva de o governo Temer vir a ser democrático, poderia-se contar com alguma condição para derrotá-lo e ao seu programa em breve tempo através da disputa política na sociedade. Mas não há esta perspectiva. E o que se terá, se ele se estabelecer como presidente, será o confronto entre uma classe trabalhadora desorganizada, sem mídia e sem partidos estruturados, contra uma ditadura apoiada pela burguesia unida, dispondo dos mais poderosos e sofisticados meios de repressão política e desmobilização social. Na verdade, não seria confronto, seria um massacre. E não é possível, francamente, que se considere um cenário destes mais favorável à esquerda do que a disputa de um plebiscito ou eleição, com Dilma ocupando a presidência.

Em tempo, vale registrar a escandalosa fraude estatística e jornalística de Datafolha e Folha, denunciada esta semana por vários órgãos da imprensa independente, como o site The Intercept, do consagrado jornalista Gleen Greenwald. Comprovado está que instituto e jornal simplesmente falsificaram os dados de sua pesquisa de opinião mais recente para esconder que mais de 60% dos entrevistados querem a antecipação da eleição presidencial. E o fizeram, claramente, para evitar que este número influenciasse a decisão dos senadores de aderirem ou não ao acordo do plebiscito que pode sepultar o impeachment. 

Só o desespero da direita, ante à real perspectiva de derrota que este acordo lhe cria, pode explicar um movimento de tamanho risco para a credibilidade de um de seus jornais e de um dos seus institutos de pesquisa mais prestigiados. A farsa foi desmascarada e, ao se-lo, mostra que, enquanto a esquerda hesita em apoiar o plebiscito, cega às virtudes e ao potencial desta estratégia, a direita já combate o plebiscito como quem luta pela própria vida, valendo-se até dos meios mais temerários para ela própria, como esta adulteração de dados da pesquisa Datafolha, exatamente porque vê na proposta do plebiscito o que a esquerda míope não tem conseguido enxergar.

Esta fraude do Datafolha constitui, portanto, mais um dado relevante da realidade a corroborar a tese de que a defesa do plebiscito hoje não seria um tiro da esquerda no próprio pé, como muitos dizem, mas um tiro da esquerda no coração do golpe. Por isso sigo apoiando esta proposta, absolutamente convicto de que este é o melhor caminho para a defesa da democracia e dos direitos da classe trabalhadora que permanecem ameaçados.

Não ao golpe!

Ditadura nunca mais!

Fora Temer!

Depois, plebiscito.

O povo decide quem governa.

Saudações petistas,

Silvio Melgarejo

21/07/2016