sábado, 10 de janeiro de 2015

Porque não sou Charlie. (3)

Veja a imagem ao lado. Isto é humor? Não, isto não é humor. É uma agressão gratuita a algo que é sagrado para milhões de pessoas em todo mundo. Se a maioria muçulmana é tolerante e pacífica, não quer dizer que não sinta a dignidade de sua fé ferida por produções como esta, e que até se sinta no fundo vingada, com o atentado de dois dias atrás, por esse tipo de ultraje, o que, a meu ver, é bastante natural.

O que está em discussão não é a legitimidade do ato terrorista, que até agora não vi ninguém defender.

O que está em discussão é a liberdade sem limites e seus efeitos. Trata-se, no presente caso, da liberdade de expressão.

Creio que aqui no Brasil o teor das charges publicadas pelo tal jornal têm chocado pelo menos tanto quanto os assassinatos. As notícias sobre atentados terroristas se banalizaram, e este teria sido apenas mais um entre tantos, não fosse a ampla divulgação das charges que despertaram o ódio e o ato terrorista.

Estas charges, sobre Maomé, a mim revoltaram, e tomo isto como medida para tentar avaliar o que sentiram os muçulmanos ao vê-las, especialmente os mais fanáticos.

A liberdade de expressão sem limites do Charlie Hebdo, amparada pela lei francesa, era opressão para a comunidade muçulmana, que não tem amparo de leis que protejam minimamente a dignidade de suas crenças. Não se trata de tornar inquestionáveis dogmas e preceitos éticos de uma religião. Trata-se de garantir respeito aos seus símbolos sagrados, sancionando exemplarmente a ridicularização gratuita e ofensiva.

Essa é uma discussão que tem a haver com a definição do tipo de democracia que se quer. É uma discussão que a França tem que fazer a partir desse atentado, mas é uma discussão que nós aqui no Brasil também temos que fazer. Afinal a liberdade de expressão tem ou não tem que ter limites? Que limites seriam estes? E quem os definiria?

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