"A pergunta que não quer calar. Por que a Direção do Partido não convoca plenárias para discutir com a militância os rumos do PT no Rio de Janeiro?
Um dia um ex-parlamentar defende aliança com Freixo, noutro dia, no Jornal O Dia, outra liderança do partido, o vice-prefeito, diz que o líder dele é o Prefeito Eduardo Paes e que seguirá sua orientação. Então...
Só posso pensar uma coisa, essa direção tem medo do debate com sua militância.
Acorda Direção!!!
Saudações Petistas, Náustria"
MEU COMENTÁRIO:
Me perdoe, Náustria, mas acho mais apropriado dizer: Acorda, base!!!
Fazer plenária com que militância, companheira? O PT não tem mais militante, só tem cabo eleitoral; não tem mais diretório, só comitê de campanha.
A imensa maioria dos filiados está fora do partido, excluída de todo debate interno e de toda decisão.
Meia dúzia de candidatos e seus cabos eleitorais discutem e resolvem tudo.
Não há democracia interna no PT, porque os diretórios não funcionam, não cumprem com obrigações organizativas básicas que o estatuto do PT lhes atribui.
E os diretórios não funcionam porque os PEDs não elegem dirigentes partidários, elegem chefes de comitês eleitorais.
O PT está inteiramente dominado pelo eleitoralismo e pelo carreirismo político.
E isto se reflete tanto nas manifestações de filiados de base na internet, quanto em declarações como esta abaixo, dada pelo vice-prefeito do Rio, Adilson Pires, ao jornal O Dia. Nada me chamou mais atenção em sua entrevista do que este trecho:
"[O partido tem] um problema de comunicação com a sociedade. Faltou entender que aquela estratégia do PT de 30 anos atrás, de panfleto na porta da fábrica, não cabe mais." (Adilson Pires)Ou seja, militância cotidiana, trabalho político de base, são práticas ultrapassadas que não cabem no PT "moderno" de Adilson Pires.
Pode parecer que não, mas isto tem tudo a haver com o fato de o 1º Diretório Zonal - e, certamente, a maioria dos demais diretórios do partido - ser, na prática, um diretório fantasma.
Quando uma liderança regional importante de um partido que se define como socialista sente-se à vontade prá defender publicamente uma posição destas, é porque esse partido já atingiu, realmente, um grau elevado de degeneração da sua cultura política.
Ou a base do PT se insurge contra a concepção de partido que está implícita nesta declaração de Adilson Pires, e que lamentavelmente conta, como ele diz na entrevista, com maioria folgada nos atuais diretórios, ou o PT, como projeto de partido socialista e democrático, de massas e de quadros, militante e dirigente, em pouco tempo será inviabilizado.
O Estatuto do PT ainda define o nosso partido da seguinte forma, em seu Artigo 1º:
"O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma associação voluntária de cidadãos e cidadãs que se propõem a lutar por democracia, pluralidade, solidariedade, transformações políticas, sociais, institucionais, econômicas, jurídicas e culturais, destinadas a eliminar a exploração, a dominação, a opressão, a desigualdade, a injustiça e a miséria, com o objetivo de construir o socialismo democrático."Em 1987, o 5º Encontro Nacional aprovou a seguinte resolução sobre concepção de partido, que nunca foi invalidada por nenhuma resolução de nenhum outro encontro ou congresso nacional posterior do PT. Diz a resolução do 5º Encontro:
"Se queremos um partido capaz de dirigir a luta pelo socialismo (...) precisamos de um partido organizado e militante, o que implica a necessidade de quadros organizadores. Um partido que seja de massas porque organizará milhares, centenas de milhares ou até milhões de trabalhadores ativos nos movimentos sociais, e porque será uma referência para os trabalhadores e a maioria do povo.O que Adilson Pires faz é vocalizar a convicção do grupo que domina os diretórios - um grupo que certamente não é composto por uma só tendência - de que, na prática, esta resolução do 5º Encontro já foi derrogada.
Nossa concepção, portanto, é a de construir o PT como um partido de classe dos trabalhadores, democrático, de massas e socialista, que tenha militância organizada e seja capaz de dirigir a luta social." (5º Encontro Nacional, 1987)
Aos que discordam, como eu, desta avaliação do vice-prefeito, que representaria o fim do PT como partido socialista e democrático, alerto:
O PT está em perigo e só quem pode salva-lo é a base excluída dos diretórios, que constitui a imensa maioria dos filiados e que tem sido há décadas marginalizada dos debates internos e dos processos decisórios do partido.
Ou vamos ao encontro dessa base excluída para nela buscar os recursos necessários para uma profunda renovação das direções, dos compromissos, dos valores e das práticas do PT, ou este partido não precisará de meia década para deixar definitivamente de ser um partido socialista e democrático dos trabalhadores e se transformar em mais um PMDB, com todos os seus repugnantes vícios.
O problema não é o PT fazer alianças táticas com o PMDB, como tem feito. O problema é o PT estar adotando a cultura política do PMDB.
Há filiados e tendências petistas que se revoltam com a aliança tática do PT com o PMDB, mas convivem tranquilamente com a cultura política pe-eme-debista da qual o PT há anos se deixou impregnar. Este é o maior escândalo, o maior dos males, e no entanto com isso ninguém se importa.
A corrupção da cultura política petista começou quando o PT, dois anos depois de fundado, mergulhou na luta política institucional sem criar mecanismos internos de defesa contra a contaminação pela cultura política predominante nas instituições burguesas.
E o que é mais grave é que estes mecanismos de defesa da integridade ideológica do partido até hoje inexistem.
Ou seja, o partido era e continua sendo um organismo inteiramente desprovido de sistema imunológico atuando num ambiente de extrema insalubridade para um partido socialista, que é a institucionalidade burguesa, e por isso ao invés de refratário, foi e está sendo permeável à cultura política de partidos como o PMDB.
O sistema imunológico do partido só pode ser construído a partir da disciplina coletiva do estudo sistemático das resoluções de seus congressos e encontros nacionais, da disciplina coletiva do debate democrático interno permanente e da disciplina coletiva do trabalho constante de propaganda e agitação política dos seus valores e projetos na sociedade.
E disciplina coletiva só se consegue quando há organização e comando.
Para isso existem no partido os diretórios, para organizar e comandar as ações dos filiados em seus respectivos territórios.
Se os diretórios não funcionam, é impossível haver disciplina coletiva para o exercício daquelas atividades que podem imunizar o partido contra o contágio de valores e práticas estranhos ao seu ideário e incompatíveis com os seus objetivos.
Por isso é que há tempos venho propondo um pacto entre todos os filiados e tendências do PT pela construção do partido e pelo funcionamento pleno e regular dos seus diretórios, afim de incorporar a massa petista ainda não filiada e garantir o uso racional das contribuições financeiras, conhecimentos e habilidades dos antigos e novos filiados na manutenção do funcionamento de uma democracia partidária de verdade e na realização de ações políticas coletivas capazes de influenciar efetivamente o processo político do país.
A sobrevivência do PT como partido socialista e democrático não depende do candidato que ele vai apoiar nas próximas eleições municipais, depende do resgate urgente da cultura política petista, corrompida ao longo de décadas pelo descaso com o funcionamento das instâncias responsáveis pela formação e informação política da base de filiados, pela garantia do funcionamento da democracia partidária e da disciplina do trabalho político cotidiano desta base junto à classe trabalhadora, que são exercícios indispensáveis para o amadurecimento político da militância e para a preservação e fortalecimento de suas convicções.
Não importa a eleição, não importa o cargo, não importa a aliança, não importa o candidato.
Importa a saúde do partido que se degenera perigosamente em consequência dos maus hábitos políticos internos adquiridos ao longo do tempo e que precisam ser abolidos para que ele se recupere.
O partido está tão mal que ainda pode sobreviver a uma eventual derrota eleitoral.
Mas não sobreviverá a um avanço maior da deformação do seu caráter.
Se o Brasil, para avançar, precisa de uma Reforma Política, é preciso que se diga que, com a mesma urgência, o PT também.
O país, com ou sem reforma, não acaba. O partido sim, corre esse risco.
PACTO PELA CONSTRUÇÃO PARTIDÁRIA JÁ
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