segunda-feira, 10 de setembro de 2018

O que é esquerda e direita.

Esquerda e direita são metáforas espaciais que designam, no universo das disputas políticas, os dois campos antagônicos em que se dividem os cidadãos, de acordo com o juízo positivo ou negativo que façam das relações de opressão existentes na sociedade - situações em que o mais forte subjuga e impõe sofrimento e prejuízo ao mais fraco - e do ideal da igualdade em dignidade e direitos entre pessoas ou entre grupos sociais com diferentes perfis e diferentes condições de existência.


No Brasil, esta polarização manifesta-se claramente frente a quatro relações sociais de opressão. A opressão de classe, dos trabalhadores pela burguesia, chamada capitalismo; a opressão de raça, dos negros pelos brancos, chamada racismo; a opressão de gênero, das mulheres pelos homens, chamada machismo; e a opressão por orientação sexual, dos homossexuais pelos heterossexuais, chamada homofobia.

Frente a cada uma destas relações posiciona-se uma esquerda, que quer igualdade para por fim à opressão que abomina, e uma direita, que à igualdade se opõe porque à opressão naturaliza e aprova.

Há, portanto, na sociedade uma esquerda e uma direta frente à opressão entre as classes; uma esquerda e uma direita frente à opressão entre as raças; há uma esquerda e uma direta frente à opressão entre os gêneros; e há uma esquerda e uma direta frente à opressão entre as orientações sexuais.

Ocorre que um mesmo indivíduo pode ser - e muito frequentemente é - de esquerda quanto a uma determinada relação de opressão e de direita quanto a uma outra relação de opressão. Pode ser, por exemplo, um socialista e ao mesmo tempo machista, antirracista e ao mesmo tempo homofóbico ou pode defender o capitalismo e ser ao mesmo tempo contra o racismo, contra o machismo e contra a homofobia.

Todas as combinações são passíveis de se manifestarem numa mesma pessoa e cada pessoa estabelece a sua própria hierarquia dos temas que entende serem mais relevantes e, portanto, merecedores de uma atenção e uma dedicação maiores.

Ou seja, cada pessoa forma o seu próprio juízo negativo ou positivo de cada relação social de opressão em particular e ao mesmo tempo atribui a cada uma delas um grau de importância que determina a posição que terá no rol das suas preocupações e a prioridade maior ou menor que terá na sua reflexão e na sua atividade política.

Disso decorre a divergência - que algum debate provoca nas hostes da esquerda - entre os que privilegiam a luta de classes e a tem como eixo fundamental das suas atuações políticas e os que privilegiam as chamadas "pautas identitárias" - outrora chamadas lutas de minorias: raça, gênero e orientação sexual - e fazem de alguma ou algumas delas eixos fundamentais das suas militâncias.

Silvio Melgarejo

10/09/2018

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.