terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O pacto antipetista do PSOL com a direita.

Por Silvio Melgarejo - O PSOL foi criado, em 2004, a partir da saída voluntária do PT de um grupo de militantes descontentes com as primeiras ações do governo petista. Nasceu do PT, propondo-se a ser uma alternativa de esquerda ao próprio PT. Esse propósito tão firmemente estabelecido como princípio, de vencer e substituir o PT no campo da esquerda, aliado ao forte ressentimento que ficou nos que se desligaram, fez com que a bandeira do antipetismo tenha assumido uma relevância maior do que as bandeiras do socialismo e da liberdade, que o partido traz inscritas em seu nome de batismo.

Durante alguns anos, tive simpatia pelo PSOL e até torci para que efetivamente se tornasse algo melhor do que o PT, o que até hoje, a meu ver, não aconteceu. Essa simpatia, no entanto, tem se desgastado rapidamente ante a forma oportunista, desleal, desonesta e irresponsável com que o partido tem desempenhado o seu legítimo papel de oposição ao governo do Partido dos Trabalhadores. Pegando carona na onda falsomoralista produzida artificialmente pela Globo, o PSOL deixou o discurso socialista de lado e adotou o mesmo discurso de criminalização do PT que fazem os partidos e organizações de direita. E o tem feito movido pelo mesmo pragmatismo eleitoral de que acusa o PT. O discurso da criminalização é, aliás, o que tem dado liga ao pacto antipetista que se tem  verificado entre partidos e organizações de esquerda e partidos e organizações de direita. Esse discurso padronizado tem servido para unificar  as oposições de esquerda e direita em torno de um objetivo muito bem definido, que é derrubar o governo petista, pelo voto ou pelo golpe, e criminalizar o Partido dos Trabalhadores.

Para o PSOL, derrotar o PT é mais importante que derrotar a Globo, o PSDB e o DEM. Sua estratégia de curto e médio prazo não é conquistar o governo do país, é conquistar a hegemonia no campo da esquerda. Dentro dessa perspectiva, o inimigo a ser batido agora não é a Globo, o PSDB e o DEM; o inimigo a ser batido é o PT. O PSOL conta mesmo com um eventual fracasso do governo petista e uma eventual derrota eleitoral do PT para ter uma chance de ser visto pelo eleitorado de esquerda como alternativa única a ser seguida. Como avalia que ainda não tem condições de vencer o PT nas urnas, ajuda a direita a fazê-lo, com a expectativa de tornar-se o partido hegemônico numa esquerda derrotada e desmoralizada. O PSOL sabe que uma vitória da direita, seria uma derrota para a classe trabalhadora, mas está decidido a impor à classe trabalhadora esse sacrifício, em nome de seu projeto. O retrocesso social e político advindo de uma eventual vitória da direita, o PSOL tentaria pôr na conta do PT, contando com a ignorância do eleitorado de esquerda quanto ao real papel que efetivamente cumpre para que se chege a esse desfecho.

O antipetismo tornou-se, para o PSOL, uma força propulsora e um fermento mais eficientes do que o próprio anticapitalismo e anti-autoritarismo que traz em seu programa. Mobiliza mais sua militância e atrai mais eleitores, simpatizantes e filiados, até do que o socialismo e a liberdade que traz no nome. Quem tiver dúvida disso, pergunte à maioria dos eleitores do PSOL do porque de votarem no partido. A resposta há de ser quase sempre de que é porque o PSOL é um partido honesto, que não tem corruptos e não se envolve em escândalos, o que não me parece uma grande vantagem, já que o PSOL nunca governou nada, só agora conquistou algumas pequenas prefeituras. Na verdade, a maioria dos eleitores do PSOL nem sabe que ele é socialista, porque o PSOL esconde o socialismo e prefere adotar o discurso moralista, achando que dá mais votos.

Ocorre que, se o anticapitalismo do PSOL o opõe  à burguesia e à direita, e o seu anti-autoritarismo o opõe aos inimigos da democracia, o antipetismo identifica o PSOL com a burguesia, com a direita e com os inimigos da democracia. Isso explica, não só a coincidência reiterada de seu discurso com o discurso da direita, mas também uma série de situações reais inusitadas em que o PSOL figura como importante aliado das forças políticas de direita, no momento em que estas se mobilizam para derrubar o governo petista. Exemplos disso são:
1 - A derrubada da CPMF;

2 - O endosso à farsa do mensalão;

3 - A defesa do procurador prevaricador, Roberto Gurgel; e

4 - O apoio de Plínio Arruda Sampaio a José Serra, na eleição municipal de São Paulo.
A contrapartida que o PSOL recebe por esse tipo de colaboração com a direita é a exposição de uma imagem positiva de seus líderes nos telejornais da emissora de maior audiência. Até 2006, foi Heloísa Helena, agora é Randolfe Rodrigues, quem tem o nome alçado à fama de paladino da ética, ao lado de outros paladinos "globais" como o senador tucano, Álvaro Dias. Randolfe é o nome mais cotado para a disputar a presidência da república pelo PSOL. Suas chances, como as de qualquer outro nome que o partido venha a lançar, são sabidamente remotas. Mas como o objetivo do PSOL não é ganhar a eleição e sim impedir a todo custo que o PT ganhe, o partido deve lançar sua candidatura para tentar tirar votos do PT e levar a eleição para o segundo turno, onde, quem sabe, o antipetismo de direita pode conseguir abater o inimigo comum.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Aos politicamente míopes ou recalcados.

Por Silvio Melgarejo -  O Brasil tem uma população de aproximadamente 200 milhões de habitantes, dos quais uma parcela significativa foi historicamente excluída da divisão da riqueza e do gozo dos direitos mais fundamentais de cidadania. Essa realidade triste e vergonhosa para o país, começou a mudar de modo acelerado a partir de 2003, quando o Partido dos Trabalhadores conquistou a Presidência da República. 


Durante seus oito anos de mandato, Lula promoveu a ascensão de quase 40 milhões de brasileiros da pobreza extrema à classe media. Para se ter uma ideia do que isso representa, estamos falando num número equivalente à população inteira da Argentina, ou de quase duas vezes a população inteira do Chile. 


Dilma Rousseff, por sua vez, ao fim de seu segundo ano de mandato, em 2012, anunciava o resgate de quase 17 milhões de brasileiros da situação de pobreza extrema. E agora, em janeiro de 2013, assume o compromisso público de erradicar a miséria no país até o final de seu mandato. 


Ou seja, em uma década, o PT transformou a vida de 57 milhões de cidadãos, proporcionando-lhes uma dignidade que eles nunca sequer sonharam um dia ter. São números de uma grandeza tal, que acabaram por tornar o Brasil uma referência internacional no que diz respeito ao combate à pobreza e à desigualdade social. 


Os falsos esquerdistas e os falsos socialistas costumam ter, diante dos progressos alcançados pelo país, sob o comando do PT, atitude exatamente igual à da oposição de direita. Ou desmentem os dados apresentados ou desprezam o seu valor. Apostam no 'quanto pior, melhor', certos de que desespero e revolta bastam para predispor o povo às ações revolucionárias, o que a história demonstra fartamente ser um equívoco. Se muito menos do que o PT fez no governo fosse obtido por outro partido através de ações armadas, com derramamento de sangue e sacrifício de vidas inocentes, estes falsos socialistas estariam a festejar os parcos resultados obtidos, pela virtude de serem obras do suposto heroísmo a que suas vaidades estúpidas querem ver-se associadas.


O verdadeiro esquerdista e o verdadeiro socialista festejam cada conquista da classe trabalhadora, sem perder de vista o horizonte que pretendem alcançar para a sociedade. Para o verdadeiro esquerdista e para o verdadeiro socialista, 'quanto pior, pior mesmo' e 'quanto melhor, melhor mesmo'. Desespero e revolta, quando associados à falta de auto-confiança e auto-estima, provocam uma sensação de impotência que pode levar à apatia política. Já a alegria de conseguir ter uma vida melhor, de sentir-se olhado e respeitado por alguém que esteja disposto a ajudar, gera a esperança e o desejo de melhorar mais ainda. Só quem deu ou viu alguém dar um passo à frente, sabe que é possível dar outros passos e tem confiança para tentar. Só luta quem acredita ser possível vencer. 


Os trabalhadores pobres do Brasil descobriram, com o governo do PT, que suas vidas podem mudar prá melhor, que eles têm direitos como cidadãos, que o Estado tem obrigação de garantir esses direitos, e que a política é o meio pelo qual suas históricas mazelas podem vir a ser superadas. Isso representa, por si só, uma mudança positiva importantíssima na cultura política das massas trabalhadoras. Elas agora pensam e falam sobre o papel do Estado, uma discussão que, afinal, abre as portas para que se introduza o tema do Socialismo. 


Só o recalque ou a miopia política podem explicar o não reconhecimento dos avanços conquistados, no Brasil, pelos governos de Lula e Dilma, e das novas possibilidades que foram criadas a partir deles. É lamentável que a oposição de esquerda, liderada pelo PSOL, demonstre o mesmo medo e o mesmo ódio pelo PT que a oposição de direita, liderada pelas Organizações Globo, de Roberto Irineu Marinho. Mais lamentável ainda é que estabeleçam, com a Globo, parceria pública de cooperação mutua nas ações de desgaste da imagem do partido e de desestabilização do seu governo. 


O PT reconhece e respeita o direito do PSOL fazer suas escolhas de alianças para a ação política. Mas espera um dia poder tê-lo como aliado na sustentação de um projeto que tanto bem já tem feito ao país e que muito mais ainda fará, se tiver condições de vencer os crescentes obstáculos que lhe tem sido interpostos pela direita oposicionista. Enquanto isso não acontece, estaremos em lados opostos da trincheira, defendendo o que a cada um de nós parece ser mais justo.