quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Coerência, universalidade e atemporalidade: atributos da verdadeira Lei de Deus.

Por Silvio Melgarejo -  Algo que a história das religiões cristãs demonstra à exaustão é que o sentido essencial e os objetivos originais do Cristianismo de Jesus foram, desde muito cedo, substituídos por outros que lhe eram absolutamente estranhos. Esmagado sob o peso da farta produção doutrinária de alguns apóstolos e dos criativos teólogos das religiões institucionalizadas, o verdadeiro Cristianismo é como uma jazida de metal precioso coberta por grossas e numerosas camadas de cascalho e pedra. Até hoje, a maior parte dos que se dizem cristãos toma pedra e cascalho por metal precioso. Não é de se estranhar que tanto mal se faça e se haja feito em nome de Deus.

Os evangelistas narram que certa vez Jesus foi abordado por um fariseu que lhe perguntou:
- Qual é o maior mandamento da lei?
Jesus respondeu-lhe:
- Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda tua alma e de todo o teu espírito (Deutoronômio, capítulo 6, versículo 5). Este é o maior e o primeiro mandamento.
E, deixando claro que só este não bastava, acrescentou:
- E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Levítico, capítulo 19, versículo 18).
Finalizando a resposta, Jesus decretou algo que boa  parte da comunidade cristã insiste, ainda hoje, em ignorar. Ele disse:
- Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas. (Evangelho de Mateus, capítulo 22, versículos 34 a 40)
No evangelho de Marcos, capítulo 12, versículos 28 a 31, a conclusão do diálogo é ainda mais explícita. Ali, Ele afirma:
- Outro mandamento maior do que estes não existe.
É preciso que se entenda, de uma vez por todas, que o verdadeiro Cristianismo não é igual ao Mosaísmo, não é igual ao Paulinismo, tampouco constitui-se dos dogmas, liturgias e exegeses com os quais o verdadeiro Cristianismo acabou sendo ao longo do tempo corrompido e embrulhado pelos teólogos das diversas religiões. O verdadeiro Cristianismo é, nada mais, nada menos, do que aquela proposta ética resumida numa única frase, dita por Jesus ao fariseu provocador, no episódio contado pelos evangelistas: amar ao próximo como a si mesmo. Este é que é o  verdadeiro Cristianismo.

A resposta de Jesus ao fariseu, deixa muito claro que, no que diz respeito à relação do homem com os outros homens, “amar ao próximo como a si mesmo” é o maior mandamento da lei de Deus, não há nenhum outro que lhe esteja acima. É, portanto, como cláusula pétrea da constituição divina revelada à humanidade. Todo o resto são leis ordinárias que, se não decorrem dela ou para ela não convergem, não podem nunca ser admitidas como procedentes de Deus.

Se a Lei de Deus é, como Deus, perfeita e imutável, tem-se, por lógico, que não tenha contradições, porque Deus, sendo perfeito, não pode se contradizer. Quem lê, no entanto, a Bíblia, tida pelos religiosos fundamentalistas como livro sagrado inspirado pelo próprio Deus, vê-se diante de uma quantidade imensa de contradições e incoerências. Através de Moisés, Deus teria ensinado, por exemplo, a Lei de Talião, do “olho por olho, dente por dente”. Através de Jesus, ensinou o perdão das ofensas que revoga a lei anterior. Ora, se Deus é contraditório e incoerente, então não é perfeito.

Uma lei perfeita não pode ter incoerências e contradições. No caso da Bíblia, atribuir a Deus tudo o que ela contém significa negar a perfeição de Deus. Admitir, por outro lado, que uma possível ou provável inspiração divina possa ter sofrido nocivas interferências por parte de seus receptores e divulgadores humanos – os profetas, evangelistas, tradutores e teólogos – que teriam corrompido a mensagem original da divindade com a deformação de alguns conceitos e a adição de outros estranhos a ela, permite que se adote em relação à Bíblia uma atitude mais cautelosa e construtiva, no que diz respeito à busca e ao resgate do que haja efetivamente, dentro dela, que possa ser considerado parte de uma Lei perfeita e imutável como se supõe ser o próprio Deus.

Jesus veio ao mundo para separar o joio do trigo, a lei dos homens da Lei de Deus, para dar a Moisés o que é de Moisés e a Deus o que é de Deus. São Paulo, infelizmente, tratou de refazer essa mistura. Os livros sagrados do judaísmo de então, incorporados pelo catolicismo e pelo protestantismo, trazem misturados os mandamentos de Moisés com os mandamentos de Deus, como se fizessem parte de um mesmo conjunto indivisível. Ora, Moisés foi, além de líder espiritual, líder político e legislador de seu povo, o povo hebreu. Tudo o que disse tinha, é fácil de se constatar pela leitura dos textos, um destinatário único e certo que era o povo hebreu governado por ele naquele contexto histórico e cultural.

Jesus, ao contrário de Moisés, era apenas líder espiritual, só que de um povo muito mais numeroso. Quase tudo o que disse, e que pode ser registrado pelos evangelistas, tinha como destinatária a humanidade inteira de todos os tempos vindouros. Por isso, enquanto a maior parte da lei mosaica carece de aplicabilidade nos tempos modernos, por estar completamente vinculada ao momento histórico e ao espaço geográfico em que foi concebida, a lei cristã mantem até hoje o seu valor para indivíduos e sociedades, exatamente por ter um caráter inteiramente atemporal e universal.

A moral que recomenda o amor ao próximo como a si mesmo vale hoje, para o mundo todo, como valia há dois mil anos em Jerusalém. E continuará valendo. Não por sua suposta procedência divina, mas pelo seu valor intrínseco, como meio para que os indivíduos alcancem o equilíbrio psíquico e para que as sociedades alcancem a justiça e a paz em suas relações internas e externas, nas relações interpessoais e intergrupos dentro de um povo, e nas relações de um povo com os outros povos.

A corrupção do Cristianismo de Jesus começa quando Paulo, fariseu convertido, avoca para si o título de apóstolo, apropria-se do legado do Cristo e o dilui na farta teologia própria que produz, sob nítida influência dos livros sagrados do judaísmo. Assim como Moisés, Paulo atribuiu a Deus incontáveis preceitos de procedência humana, que, sobre os preceitos de procedência realmente divina, acabaram prevalecendo. Houve, por assim dizer, uma fraude do Cristianismo e da própria Lei de Deus, cujas versões corrompidas acabaram sendo aceitas como verdadeiras e válidas pela comunidade cristã nascente, no momento mesmo em que ela se expandia e se universalizava.  Todo mal cometido pela Igreja Católica ao longo de séculos de história adveio da corrupção precoce do Cristianismo de Jesus, por aquele mesmo que viria a ser o seu maior divulgador: São Paulo. Esta é a tese que pretendo sustentar a partir de agora.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Jesus Histórico, por Mário Sérgio Cortella (programa Canal Livre - Band - 23/12/2010) VÍDEO


Sinopse do Programa Canal Livre, da Band, de 23/12/2010, constante do site da emissora.

23/12/2010  

Jesus Histórico é o tema do Canal Livre

O personagem mais fascinante da história da humanidade. Quem foi e como viveu Jesus de Nazaré. O que a história e a arqueologia podem nos dizer sobre seu tempo. O Jesus Histórico é o tema do Canal Livre, que recebe o filósofo Mário Sergio Cortella. Domingo, 23h30.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Cristianismo e Socialismo.

Por Silvio Melgarejo -  Socialismo é o sistema econômico-social que estabelece o mínimo de concentração da riqueza, para que haja o máximo de igualdade na divisão da riqueza.

Democracia é o regime político que estabelece o mínimo de concentração do poder, para que haja o máximo de igualdade na divisão do poder.

Socialismo Democrático é o sistema politico-econômico-social que estabelece o mínimo de concentração da riqueza, com o mínimo de concentração do poder, para que haja o máximo de igualdade na divisão da riqueza, com o máximo de igualdade na divisão do poder.

Há dois tipos de socialismo. O que é imposto ao povo e o que é imposto pelo povo. Um é o socialismo autoritário, já experimentado, que não deixou boas lembranças. O outro é o Socialismo Democrático, que ainda está por vir, no qual depositam suas esperanças os que têm a igualdade com liberdade como utopia. Eu sou um destes últimos e acredito que o Cristianismo é o mais poderoso aliado desse generoso ideal de organização social que é o Socialismo Democrático.

Quando falo em Cristianismo, não me refiro, evidentemente, às grandes religiões institucionalizadas que se reivindicam cristãs. Estas religiões não são e nunca foram fiéis ao Cristianismo genuíno. Refiro-me, isto sim, à proposta ética enunciada pelo próprio Jesus Cristo, conforme o relato dos evangelistas Mateus, Lucas e Marcos, que transcrevo abaixo. Peço a atenção dos que me leem. O Cristianismo não é uma igreja e não é uma religião; é uma proposta ética. É isso o que pretendo demonstrar a seguir.


Cristianismo segundo Jesus

Evangelho de Mateus, capítulo 22, versículos 34 a 40 
"Sabendo os fariseus que Jesus reduzira ao silêncio os saduceus, reuniram-se, e um deles, doutor da lei, fêz-lhe esta pergunta para pô-lo à prova: '- Mestre, qual é o maior mandamento da lei?' Respondeu Jesus: '- Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda tua alma e de todo o teu espírito (Deutoronômio, capítulo 6, versículo 5). Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo , semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Levítico, capítulo 19, versículo 18). Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas.'"
 Evangelho de Mateus, capítulo 7, versículo 12 (Sermão da Montanha)
"Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a lei e os profetas."
Evangelho de Marcos, capítulo 12, versículos 28 a 31
"Achegou-se dele um dos escribas que os ouvira discutir e, vendo que lhes respondera bem, indagou dele: '- Qual é o primeiro de todos os mandamentos?' Jesus respondeu-lhe: '- O primeiro de todos os mandamentos é este: Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor; amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças. Eis, aqui, o segundo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.* Outro mandamento maior do que estes não existe.'" * (Citação de Deutoronômio, capítulo 6, versículos 4 e 5; e Levítico, capítulo 19, versículo 18)
Evangelho de Lucas, capítulo 10, versículos 25 a 37
"Levantou-se um doutor da lei e, para pô-lo à prova, perguntou: '- Mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna?' Disse-lhe Jesus: '- Que está escrito na lei? Como é que lês?' Respondeu ele: '- Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu pensamento (Deutoronômio, capítulo 6, versículo 5); e a teu próximo como a ti mesmo (Levítico, capítulo 19, versículo 18).' Falou-lhe Jesus: '- Respondeste bem; faze isso, e viverás.'"
Evangelho de Lucas, capítulo 6, versículo 31 
"Tratai todos os homens como quereríeis que eles vos tratassem."


Quem são os cristãos


Cristãos não são os que se dizem cristãos. São os que lutam para atingir um ideal de conduta baseado no modelo de Jesus Cristo; os que, imperfeitos, perseguem a perfeição, segundo esse modelo. Cristãos são seres que vivem, diariamente, a tensão entre o ideal e o possível, entre a aspiração pela transcendência e a miserável condição humana. Não são anjos, não são os que não pecam. São os que, pecando, reconhecem seus erros e lutam consigo mesmos para não reincidir. Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo é a máxima que tomam por diretriz de suas vidas. O cristão é um revolucionário, dentro de si mesmo, lutando sem descanso, na intimidade de seu próprio ser, contra a tirania do orgulho e do egoísmo, que ainda lhe governam a alma e que identifica como razões maiores de sua desdita. O cristão acredita que a transformação do mundo começa com a transformação de si mesmo em algo próximo do que espera de seus semelhantes. Suas lutas, suas vitórias e suas derrotas, suas feridas abertas e suas cicatrizes, ninguém vê; ninguém senão ele mesmo sabe da dor e do gozo experimentados nessas batalhas. O cristão é, como todo ser humano, um guerreiro solitário em seu mundo íntimo. A diferença é que ele tem a seu favor a fé, que consola e encoraja, e a ética, que orienta e lhe aponta o rumo certo.


Fé cristã e ética cristã


O Cristianismo tem duas dimensões que são perfeitamente traduzidas pelos dois mandamentos citados por Jesus, como síntese de sua doutrina, conforme relatam os evangelistas. O Cristianismo tem uma dimensão religiosa e uma outra dimensão, que é a dimensão ética. Amar a Deus sobre todas as coisas, é o fundamento da fé cristã. Amar ao próximo como a si mesmo, é o fundamento da ética cristã. Não importa o que digam ou façam os que se dizem seguidores de Jesus. Eles não têm mais autoridade do que o próprio Cristo para dizer o que é o Cristianismo. E o que o Cristo disse foi que os maiores mandamentos da Lei de Deus são amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo. Isso é o Cristianismo. O resto é o resto.

O indivíduo que ama ao seu semelhante realmente não precisa da fé cristã para seguir a ética cristã. Só precisa ouvir à própria consciência. Mas o indivíduo que ainda não sabe amar, precisa mesmo da fé cristã para seguir a ética cristã. Nesse caso, mesmo sem saber amar, ele agirá como se soubesse. Seus atos de amor não brotarão do amor genuíno pelo próximo, mas da obediência à vontade de Deus. A fé cristã fortalece o homem para que ele resista às dores da vida sem se curvar a elas. Já a ética cristã dá ao homem uma diretriz segura de bem proceder, para bem viver consigo mesmo e com os outros homens na sociedade. A ética e a fé cristãs não dependem, de fato, uma da outra, mas, também, de fato, o que se observa é que alimentam-se mutuamente e se robustecem quando presentes numa mesma pessoa.


O que é o Cristianismo


O Cristianismo é, portanto, o modelo de fé e de ética defendido por Jesus. Esse modelo de fé e de ética nada têm a ver com a produção teológica e com os atos condenáveis dos que O antecederam e O sucederam, apresentando-se como emissários de Deus. Jesus ensinou que o maior mandamento de Deus, no que se refere à relação do ser humano com seu semelhante, é que cada um ame a seu próximo como a si mesmo. Disse que nenhum outro mandamento, exceto o que recomenda o amor incondicional a Deus, é mais importante do que este. Amar a Deus é fazer a Sua vontade. E a vontade de Deus, segundo Jesus, é que todo indivíduo ame a seu próximo como a si mesmo. Portanto, este mandamento – amar ao próximo como a si mesmo – é a síntese perfeita do Cristianismo, apresentada por Aquele mesmo que todos os cristãos dizem ter como mestre. 


Cristianismo e Socialismo Democrático


O Cristianismo nada mais é do que a ética da solidariedade por empatia, ensinada por Jesus. Essa ética é a única capaz de servir de base cultural para a construção de um Socialismo Democrático, que não precise valer-se da repressão estatal às ambições de milhões de indivíduos egoístas, para promover e manter a ordem social igualitária. O Socialismo Democrático é aquele em que a igualdade não é imposta ao povo, e sim por ele desejada e buscada; é aquele em que a ordem igualitária não é só a realização do projeto de um partido, mas a realização da vontade soberana de um povo livre, inspirado pelo sentimento de solidariedade. 

A ética cristã não é realmente a melhor amiga das propostas revolucionárias autoritárias, idealizadas por vanguardas descoladas do povo, decididas a impor ao povo, pela força, o socialismo. Mas a ética cristã será a maior e a melhor aliada da revolução socialista democrática, aquela que será feita pelas próprias massas trabalhadoras, às quais há de servir de inspiração para a construção do mundo novo, justo e fraterno, no qual poderá viver feliz e em paz a humanidade.

O Reino dos Céus na Terra, cujo modo de ser construído foi ensinado por Jesus, começa na alma dos homens e se estende ao ambiente em que eles vivem. O homem capaz de amar a seu próximo como a si mesmo é naturalmente, mesmo que não saiba, um cidadão socialista, pronto para conviver feliz com os limites à concentração da propriedade privada, próprios da ordem igualitária. Um povo de egoístas jamais será feliz no socialismo. O egoísta pobre pode ser infeliz no capitalismo, mas se consola com a promessa capitalista de que ele um dia pode vir a ser rico. Essa promessa o socialismo não lhe faz, essa esperança o socialismo não lhe dá.

O egoísta não acha injusta a exploração do homem pelo homem, nem a distribuição desigual da riqueza; acha injusto, isto sim, que ele mesmo seja explorado e não explorador, e que a riqueza esteja concentrada em outras mãos que não as suas. Pouco lhe importa a condição miserável de milhões de semelhantes. Importa-lhe salvar a própria pele e ascender socialmente tanto quanto lhe seja possível, para gozar dos privilégios dos ricos, que não condena, antes inveja. Só à custa de uma brutal repressão estatal o socialismo pode ser imposto a esse tipo de gente que, a meu ver, continua a ser maioria na sociedade. E socialismo, imposto à maioria, não é socialismo democrático, é ditadura.

Socialismo é igualdade na divisão da riqueza. Democracia é igualdade na divisão do poder. Socialismo Democrático é a combinação desses dois conceitos, sendo a igualdade na divisão do poder, a condição fundamental para a conquista e manutenção da igualdade na divisão da riqueza. O Socialismo Democrático é aquele que é construído pelo próprio povo, e não por alguém em seu nome e à sua revelia.


Ética cristã e ética socialista


Todo sistema econômico se baseia em relações sociais regidas por algum tipo de ética. A ética do capitalismo é a da desigualdade, da competição e da indiferença pelo outro. A do socialismo é o inverso disso. A ética do socialismo é a ética da igualdade, da cooperação e da solidariedade. Ora, não é essa a mesma proposta ética do Cristianismo? Amar ao próximo como a si mesmo é querer o bem do outro em medida igual à que se quer o próprio bem. E não é esta uma clara exortação a que se estabeleçam relações sociais de cooperação e solidariedade para a promoção da igualdade entre os indivíduos?

São Paulo não é a minha maior referência em se tratando de Cristianismo; prefiro Jesus. Mas todas as religiões que se reivindicam cristãs o têm como referência até maior do que o próprio Cristo. Vejam o que diz o Apóstolo dos Gentios, na Segunda Epístola aos Coríntios, capítulo 8, versículos 12 a 15.
“Quando se dá de bom coração segundo as posses (evidentemente, não do que não se tem), sempre se é bem recebido. Não se trata de aliviar os outros fazendo-vos sofrer penúria, mas sim, que haja igualdade entre vós. Nas atuais circunstâncias, vossa abundância supra a indigência daqueles, para que, a seu turno, a abundância deles venha a suprir a vossa indigência. Assim reinará a igualdade. Como está escrito: ‘O que colheu muito não teve sobra, e o que pouco colheu não teve falta’ (Êxodo 16, 18)."
O discurso de São Paulo guarda notável sintonia com o ideal comunista proclamado por Marx, em sua ‘Crítica ao programa de Ghota’, de 1875, onde ele diz: 
“De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”.
Como se vê, a ética cristã, mesmo quando vocalizada por São Paulo e não pelo Cristo, é absolutamente idêntica à ética socialista. Igualdade, cooperação e solidariedade são os fundamentos de ambas. Por isso, todo discurso e toda prática genuinamente cristãos ferem profundamente o capitalismo em sua base cultural de sustentação – que é a ética da desigualdade, da competição e da indiferença pelo outro – e, portanto, são discursos e práticas essencialmente anticapitalistas e pró-socialistas.

Dir-se-á que o pacifismo cristão é um óbice à revolução socialista. Ora, revoluções não se fazem só com fuzis. Uma revolução socialista é algo muito mais complexo do que um simples golpe de Estado. Golpes de Estado só vingam quando o governo ou o próprio Estado estão debilitados. Mais poderosa que as ações de milícias revolucionárias é a mobilização pacífica das massas, desarmadas, para a desobediência civil, dentro e fora do Estado burguês. Esse tipo de mobilização é a forma mais eficiente de desarticular o Estado e esvaziar sua autoridade perante as massas, abrindo caminho, aí sim, para um golpe de Estado exitoso e virtuoso, porque democrático, já que realmente respaldado pelo povo em seus propósitos.


O nome político do amor é Socialismo


Quando a ética cristã e socialista da solidariedade for melhor compreendida e quando, afinal, for aceita pelas massas, como valor humano essencial e como padrão de conduta a ser seguido, não haverá mais como o capitalismo se sustentar. O chumbo dos pés do gigante terá virado barro, bastando um só golpe de martelo para pô-lo abaixo.

Só o Cristianismo com sua ética solidária, pode fazer com que os homens não se sintam coagidos a dividir suas posses, mas que, ao contrário disso, sendo livres, sintam-se movidos, pela própria consciência, a voluntariamente repartirem o que possuem e o que poderiam vir a possuir um dia. 

Só quem ama a seu próximo como a si mesmo é capaz de repartir o que tem, suas posses e seus sonhos, sem se sentir roubado. 

Só um povo constituído por indivíduos generosos, dotados da capacidade de amar seu semelhante, será capaz de viver feliz no socialismo. Porque só quem ama é capaz de ser feliz renunciando ao que tem em favor do outro.

O ódio pode derrubar governos e até mover revoluções. Mas não é capaz de construir o Socialismo Democrático. Quem constrói o Socialismo Democrático é a solidariedade. E a solidariedade nada mais é que o amor em ação. Por isso, concordo com Frei Betto quando ele diz, numa frase lapidar, que “o nome político do amor não é outro senão Socialismo”.

O socialismo é, sem dúvida nenhuma, o sistema econômico-social mais coerente com a ética cristã. Eu diria até, sem medo de errar, que o Socialismo Democrático, que estabelece a igualdade preservando a liberdade, será mesmo uma consequência natural da compreensão e da vivência da genuína ética cristã pela maioria dos indivíduos. Para mim, o Reino dos Céus na Terra, anunciado por Jesus, será de fato uma sociedade socialista e democrática.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Em pronunciamento, Dilma anuncia redução de 18% na tarifa de energia elétrica.

Presidenta destaca os avanços do país em seu mandato e nos dois mandatos de Lula e critica má vontade e previsões erradas da Globo e dos partidos de oposição.

"(...) Aliás, neste novo Brasil, aqueles que são sempre do contra estão ficando para trás, pois nosso país avança sem retrocessos, em meio a um mundo cheio de dificuldades. Hoje, podemos ver como erraram feio, no passado, os que não acreditavam que era possível crescer e distribuir renda. Os que pensavam ser impossível que dezenas de milhões de pessoas saíssem da miséria. Os que não acreditavam que o Brasil virasse um país de classe média. Estamos vendo como erraram os que diziam, meses atrás, que não iríamos conseguir baixar os juros nem o custo da energia, e que tentavam amedrontar nosso povo, entre outras coisas, com a queda do emprego e a perda do poder de compra do salário. Os juros caíram como nunca, o emprego aumentou, os brasileiros estão podendo e sabendo consumir e poupar. Não faltou comida na mesa, nem trabalho. E nos últimos dois anos, mais 19 milhões e 500 mil pessoas, brasileiros e brasileiras, saíram da extrema pobreza.

O Brasil está cada vez maior e imune a ser atingido por previsões alarmistas. Nos últimos anos, o time vencedor tem sido o dos que têm fé e apostam no Brasil. Por termos vencido o pessimismo e os pessimistas, estamos vivendo um dos melhores momentos da nossa história. E a maioria dos brasileiros sente e expressa esse sentimento. Vamos viver um tempo ainda melhor, quando todos os brasileiros, sem exceção, trabalharem para unir e construir. Jamais para desunir ou destruir. Porque somente construiremos um Brasil com a grandeza dos nossos sonhos quando colocarmos a nossa fé no Brasil acima dos nossos interesses políticos ou pessoais." (Presidenta Dilma Rousseff, 23/01/2013)



Blog do Planalto -  A presidenta Dilma Rousseff afirmou, em pronunciamento, que, a partir desta quinta-feira (24), passará a vigorar a redução de 18% na tarifa de energia para os consumidores residenciais. Para o comércio e a indústria, a diminuição será de até 32%. O corte é ainda maior do que o anunciado pela presidenta em setembro de 2012: 16,2% para residências e até 28% para a indústria. Dilma também disse que o Brasil é um dos poucos países que ao mesmo tempo reduz a tarifa de luz e aumenta a produção de energia.
“Esse movimento simultâneo nos deixa em situação privilegiada no mundo. Isso significa que o Brasil vai ter energia cada vez melhor e mais barata, significa que o Brasil tem e terá energia mais que suficiente para o presente e para o futuro, sem nenhum risco de racionamento ou de qualquer tipo de estrangulamento no curto, no médio ou no longo prazo”, afirmou Dilma.
Dilma ressaltou que os investimentos permitirão dobrar, em 15 anos, a capacidade instalada de energia elétrica. A presidenta disse ainda que a redução vai permitir a ampliação do investimento, aumentando o emprego e garantindo mais crescimento para o país e bem-estar para os brasileiros.
“Temos baixado juros, reduzido impostos, facilitado o crédito e aberto, como nunca, as portas da casa própria para os pobres e para a classe média. Ao mesmo tempo, estamos ampliando o investimento na infraestrutura, na educação e na saúde e nos aproximando do dia em que a miséria estará superada no nosso Brasil”.
A presidenta esclareceu que todos os brasileiros serão beneficiados pela medida, mesmo os atendidos pelas concessionárias que não aderiram ao esforço feito pelo governo federal para a redução da tarifa.
“Neste novo Brasil, aqueles que são sempre do contra estão ficando para trás, pois nosso país avança sem retrocessos, em meio a um mundo cheio de dificuldades. (…) Porque somente construiremos um Brasil com a grandeza dos nossos sonhos quando colocarmos a nossa fé no Brasil acima dos nossos interesses políticos ou pessoais”, finalizou.
Fonte: Blog do Planalto.

Pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff

23 de janeiro de 2013

"Queridas brasileiras e queridos brasileiros, 
Acabo de assinar o ato que coloca em vigor, a partir de amanhã, uma forte redução na conta de luz de todos os brasileiros. Além de estarmos antecipando a entrada em vigor das novas tarifas, estamos dando um índice de redução maior do que o previsto e já anunciado. A partir de agora, a conta de luz das famílias brasileiras vai ficar 18% mais barata.
É a primeira vez que isso ocorre no Brasil, mas não é a primeira vez que o nosso governo toma medidas para baixar o custo, ampliar o investimento, aumentar o emprego e garantir mais crescimento para o país e bem-estar para os brasileiros. Temos baixado juros, reduzido impostos, facilitado o crédito e aberto, como nunca, as portas da casa própria para os pobres e para a classe média. Ao mesmo tempo, estamos ampliando o investimento na infraestrutura, na educação e na saúde e nos aproximando do dia em que a miséria estará superada no nosso Brasil.
No caso da energia elétrica, as perspectivas são as melhores possíveis. Com essa redução de tarifa, o Brasil, que já é uma potência energética, passa a viver uma situação ainda mais especial no setor elétrico. Somos agora um dos poucos países que está, ao mesmo tempo, baixando o custo da energia e aumentando sua produção elétrica. Explico com números: como acabei de dizer, a conta de luz, neste ano de 2013, vai baixar 18% para o consumidor doméstico e até 32% para a indústria, a agricultura, o comércio e serviços. Ao mesmo tempo, com a entrada em operação de novas usinas e linhas de transmissão, vamos aumentar em mais de 7% nossa produção de energia, e ela irá crescer ainda mais nos próximos anos.
Esse movimento simultâneo nos deixa em situação privilegiada no mundo. Isso significa que o Brasil vai ter energia cada vez melhor e mais barata, significa que o Brasil tem e terá energia mais que suficiente para o presente e para o futuro, sem nenhum risco de racionamento ou de qualquer tipo de estrangulamento no curto, no médio ou no longo prazo. No ano passado, colocamos em operação 4 mil megawatts e 2.780 quilômetros de linhas de transmissão.
Este ano, vamos colocar mais 8.500 megawatts de energia e 7.540 quilômetros de novas linhas. Temos uma grande quantidade de outras usinas e linhas de transmissão em construção ou projetadas. Elas vão nos permitir dobrar, em 15 anos, nossa capacidade instalada de energia elétrica, que hoje é de 121 mil megawatts. Ou seja, temos contratada toda a energia que o Brasil precisa para crescer, e bem, neste e nos próximos anos.
Minhas amigas e meus amigos,
O Brasil vive uma situação segura na área de energia desde que corrigiu, em 2004, as grandes distorções que havia no setor elétrico e voltou a investir fortemente na geração e na transmissão de energia. Nosso sistema é hoje um dos mais seguros do mundo porque, entre outras coisas, temos fontes diversas de produção de energia, o que não ocorre, aliás, na maioria dos países.
Temos usinas hidrelétricas, nucleares, térmicas e eólicas, e nosso parque térmico, que utiliza gás, diesel, carvão e biomassa foi concebido com a capacidade de compensar os períodos de nível baixo de água nos reservatórios das hidrelétricas. Praticamente todos os anos as térmicas são acionadas, com menor ou maior exigência, e garantem, com tranquilidade, o suprimento. Isso é usual, normal, seguro e correto. Não há maiores riscos ou inquietações.
Surpreende que, desde o mês passado, algumas pessoas, por precipitação, desinformação ou algum outro motivo, tenham feito previsões sem fundamento, quando os níveis dos reservatórios baixaram e as térmicas foram normalmente acionadas. Como era de se esperar, essas previsões fracassaram. O Brasil não deixou de produzir um único kilowatt que precisava, e agora, com a volta das chuvas, as térmicas voltarão a ser menos exigidas.
Cometeram o mesmo erro de previsão os que diziam, primeiro, que o governo não conseguiria baixar a conta de luz. Depois, passaram a dizer que a redução iria tardar. Por último, que ela seria menor do que o índice que havíamos anunciado.
Hoje, além de garantir a redução, estamos ampliando seu alcance e antecipando sua vigência. Isso significa menos despesas para cada um de vocês e para toda a economia do país. Vamos reduzir os custos do setor produtivo, e isso significa mais investimento, mais produção e mais emprego. Todos, sem exceção, vão sair ganhando.
Aproveito para esclarecer que os cidadãos atendidos pelas concessionárias que não aderiram ao nosso esforço terão, ainda assim, sua conta de luz reduzida, como todos os brasileiros. Espero que, em breve, até mesmo aqueles que foram contrários à redução da tarifa venham a concordar com o que eu estou dizendo.
Aliás, neste novo Brasil, aqueles que são sempre do contra estão ficando para trás, pois nosso país avança sem retrocessos, em meio a um mundo cheio de dificuldades. Hoje, podemos ver como erraram feio, no passado, os que não acreditavam que era possível crescer e distribuir renda. Os que pensavam ser impossível que dezenas de milhões de pessoas saíssem da miséria. Os que não acreditavam que o Brasil virasse um país de classe média. Estamos vendo como erraram os que diziam, meses atrás, que não iríamos conseguir baixar os juros nem o custo da energia, e que tentavam amedrontar nosso povo, entre outras coisas, com a queda do emprego e a perda do poder de compra do salário. Os juros caíram como nunca, o emprego aumentou, os brasileiros estão podendo e sabendo consumir e poupar. Não faltou comida na mesa, nem trabalho. E nos últimos dois anos, mais 19 milhões e 500 mil pessoas, brasileiros e brasileiras, saíram da extrema pobreza.
O Brasil está cada vez maior e imune a ser atingido por previsões alarmistas. Nos últimos anos, o time vencedor tem sido o dos que têm fé e apostam no Brasil. Por termos vencido o pessimismo e os pessimistas, estamos vivendo um dos melhores momentos da nossa história. E a maioria dos brasileiros sente e expressa esse sentimento. Vamos viver um tempo ainda melhor, quando todos os brasileiros, sem exceção, trabalharem para unir e construir. Jamais para desunir ou destruir. Porque somente construiremos um Brasil com a grandeza dos nossos sonhos quando colocarmos a nossa fé no Brasil acima dos nossos interesses políticos ou pessoais.
Muito obrigada e boa noite."

Fonte: Secretaria de Imprensa da Presidência da República.