quarta-feira, 13 de abril de 2022

Esquerda alckmista esconde a história pra defender o 'Temer do Lula'


Não é menos inconsistente a argumentação do professor Gilberto Maringoni, do PSOL, para defender Alckmin vice do Lula do que todas as demais argumentações neste mesmo sentido que tenho lido e ouvido na internet. Na verdade, o professor Maringoni repete o modelo predominante de discurso, que consiste em: 1 - superestimar a força do bolsonarismo; e 2 - apagar da história o golpe de 2016. Maringoni abre o seu texto dizendo: "Juro que não consigo entender a carga pesada que alguns ativistas de esquerda - gente de valor - fazem contra a chapa Lula-Alckmin". Pois eu juro que não consigo acreditar que ele não entenda. A menos que ele esteja acometido de uma amnésia histórica seletiva. Porque não há de ser por desinformação que omite fatos de tamanha relevância, vividos tão recente e intensamente por toda a nação. Como ele não é o único a fazê-lo, suponho estar havendo um surto dessa amnésia seletiva na esquerda brasileira. Seletiva porque da memória só some o que não convém à tese apregoada por seus padecentes. Ou supostos padecentes, se a amnésia for simulada.

Reproduzo o texto de Maringoni ao fim deste post e quem o ler há de constatar que nenhuma menção é feita ao golpe de 2016. Não posso afirmar que é intencional essa omissão, pode ser mesmo efeito de amnésia. Mas posso dizer seguramente que ela muito convém à defesa da tese do autor. Porque realmente, para defender com eficácia essa aliança que Lula está fazendo, tem que se fazer mesmo o que Maringoni faz no seu texto e o que todos os defensores dessa aliança, a começar pelo próprio Lula, têm feito o tempo todo: apagar uma parte importante da história, esquecer que houve um golpe de Estado e esquecer que este golpe foi liderado por Alckmin e a centro direita e não por Bolsonaro e a extrema direita. 

É preciso além disso esquecer, para defender essa aliança, que a Lava Jato só se tornou o monstro destruidor que virou por causa do apoio de Alckmin e da centro direita e não pelo apoio de Bolsonaro e da extrema direita. E é preciso também ignorar que em 7 de setembro de 21, quando Bolsonaro tentou um golpe de Estado, simplesmente fracassou. Ou seja, Alckmin foi líder de um golpe exitoso enquanto Bolsonaro foi líder de um golpe que sequer aconteceu. Quem é então a maior ameaça à democracia? Já disse minha opinião no texto Bolsonaro não tem força para um golpe. Centro-direita é perigo maior, publicado neste blog.

Aí está o padrão da retórica alckmista nas hostes da esquerda: superestimar a força do bolsonarismo e apagar da história o golpe de 16. Pois só assim se pode dar crédito a Alckmin e usar Bolsonaro como bode expiatório por tudo que aconteceu desde a deposição de Dilma, sobretudo nas áreas econômica e social, e ainda por cima sustentar que a maior ameaça à democracia é Bolsonaro e não Alckmin. 

Mas Maringoni vale-se de um recurso retórico adicional, que é identificar Alckmin com alguns dos nomeados nos governos petistas para ministérios ou indicados naquele tempo para o Supremo. A lógica implícita nessa comparação é a de que se erramos naquelas nomeações e indicações devemos insistir no erro e não nos corrigirmos. Ele diz que é "um purismo infantilóide que descortina oportunismo cru" todo o esforço que se tem feito para não errar de novo. 

Aliás, é bom lembrar que num governo, os ministros podem ser substituídos, mas o vice-presidente, assim como os juízes do Supremo, não. De modo que não há como corrigir a escolha errada de um vice. Por isso é tão séria essa decisão que está sendo tomada. Que os militantes inexperientes e desinformados a banalizem, é compreensível. Mas é imperdoável que os mais experientes e bem informados o façam, induzindo os demais ao erro, à ilusão de estarem no melhor caminho. A decepção e a derrota os esperam, se não mudarmos de rumo.

Por fim, quero destacar uma pergunta do professor Maringoni que é a expressão mais viva da sua amnésia histórica seletiva. Ele indaga: "Alckmin seria mais conservador que José Eduardo Cardozo"? Minha resposta: provavelmente não. Mas Alckmin liderou o golpe, apoiado por Bolsonaro, enquanto José Eduardo Cardozo lutava contra o golpe, ao lado de Dilma, eles estavam em lados opostos, José Eduardo na trincheira da democracia e Alckmin na trincheira do golpismo. Mas o professor esqueceu ou finge que esqueceu o que aconteceu naqueles dias não tão distantes.

O que Maringoni classifica como "a única tentativa viável de nos tirar do abismo e de recolocar o Brasil no rumo da democracia" é na verdade o caminho mais seguro para uma derrota efetiva, depois de uma vitória ilusória. Com Alckmin vice de Lula, os bilionários e a centro direita instalam a terceira via, que tantos dão como morta, dentro da primeira, de forma definitiva. Com isso deixam Lula com duas alternativas: ou ele preserva o legado do golpe, a Ponte Para o Futuro, ou sofre um golpe de Estado. E se isso acontecer, a esquerda, assim como em 2016, não será capaz de resistir porque será pega de surpresa e não estará preparada para dar a resposta necessária. Os que, como eu, se opõem a essa aliança estão tentando evitar que a esquerda caia nessa cilada. Porque se esse plano foi concebido por Alckmin, eu digo que é genial. Mas se a ideia foi de Lula, eu considero um desastre, uma autossabotagem, que eu espero mesmo que não prospere.

***

SEGUE O TEXTO COMENTADO

"A OPOSIÇÃO À CHAPA LULA ALCKMIN ULTRAPASSOU OS LIMITES DO RAZOÁVEL. 

CORRE O RISCO DE CAIR NA SABOTAGEM ABERTA

Juro que não consigo entender a carga pesada que alguns ativistas de esquerda - gente de valor - fazem contra a chapa Lula-Alckmin. Os resultados desastrosos do primeiro turno francês batem na nossa cara, depois dos quatro candidatos progressistas sequer terem se sentado para traçar uma tática comum, que poderia ter levado Jean-Luc Melénchon à segunda volta.

Tenho duas impressões sobre a tentativa de torpedear a chapa progressista brasileira, que unifica vários partidos.

A PRIMEIRA é a sensação que os que a atacam são insensíveis não apenas a fascitização do governo Bolsonaro e seus apoiadores, mas à gosma social que o sustenta. Os últimos sete anos, com três governos que investiram pesado na desconstrução de regras e parâmetros públicos de convivência, geraram monstros sociais incontroláveis. As Forças Armadas viraram um lumpesinato fardado, as polícias estão incontroláveis, diversos bandos milicianos fortemente armadas estão prontos para botar fogo no circo nos próximos meses, entre outras coisas. Diante disso, os detratores da chapa Lula-Alckmin atuam como se estivéssemos na Suíça, com as condições normais de temperatura e pressão garantidas até outubro;

A SEGUNDA IMPRESSÃO vem de um purismo infantilóde que descortina oportunismo cru. Alguém acha, siceramente, que Alckmin tem posições mais neoliberais do que Antonio Palocci e Henrique Meirelles - que elevaram a selic a 26,5% em 2003 e o superávit primário para 4,8% do PIB em 2005 (índice sequer tentado nos anos FHC)? Ou que a fé mercadista do governador suplanta a de Dilma Rousseff, que dobrou o desemprego em 15 meses e chegou a dizer - ao jornal belga Le Soir, em junho de 2015 - que não havia outro caminho a não ser o alucinado ajuste fiscal que arrebentou nossa economia? Alckmin seria mais conservador que José Eduardo Cardozo, que ofereceu ao ex-governador a Força Nacional para reprimir os protestos de 2013? Seria um direitista mais extremado que Dias Tóffoli, Luís Fux, Luís Roberto Barroso, Edson Facchin e outros juristas de confiança do PT? 

Pela composição de forças, a chapa Lula-Alckmin não parece ser nem melhor e nem pior do que as administrações do período 2003-16. Assim como aqueles governos, a chapa não tem em seu horizonte qualquer perspectiva de transformação social. 

Ocorre que a política gira e a Luzitana roda. Hoje, mesmo um governo mediano e tímido é preferível à barbárie em curso. As oposições de esquerda ao longo dos 13 anos petistas foram incapazes de gerar um programa de desenvolvimento factível e realista. Não adianta brigar pelas aparências agora.

Assim, repito: investir contra a chapa Lula-Alckmin não apeas atrapalha, mas objetivamente sabota a única tentativa viável de nos tirar do abismo e de recolocar o Brasil no rumo da democracia."

https://disparada.com.br/oposicao-chapa-lula-alckmin/

Se a esquerda resolver ser Ulisses, que alternativa o povo terá?


Quem derrubou Dilma e botou Lula na cadeia pra tirá-lo da eleição de 2018 não foram Bolsonaro e a extrema direita, foram Alckmin e a centro direita, chamada "direita democrática" pelo sociólogo Celso Rocha de Barros, no artigo que reproduzo ao fim deste comentário. 

Pergunto ao Celso e aos que me leem:

Democrata dá golpe de Estado? Democrata cassa direitos políticos de adversários com base em fraudes judiciais? 

Será inocência julgar a confiabilidade dos agentes políticos e a conveniência e segurança de alianças com eles de acordo com a sua trajetória? 

Ou será que a história só vale quando serve pra justificar os nossos desatinos? 

Quando a esquerda topar ser o Ulisses ela deixará de ser esquerda, porque o Ulisses sempre foi de direita e de todas as articulações que fez nasceu um governo de direita, contra o qual o PT se opôs apresentando-se como alternativa. 

Se a esquerda topar ser o Ulisses, que alternativa o povo terá? 

Alckmin já disse através do presidente do seu novo partido que não quer programa de esquerda, quando se sabe que só um programa de esquerda pode atender às necessidades do povo. 

O que Alckmin quer é a continuidade da Ponte Para o Futuro. Se Lula não topar, nós vamos ter um novo golpe de Estado. 

A esquerda está induzindo o povo brasileiro a confiar nos seus maiores inimigos e montando uma verdadeira cilada para si mesma, da qual dificilmente vai poder escapar, logo ali na frente, quando o governo Lula estiver sendo sabotado, quando por causa dessa sabotagem instalarem-se as primeiras crises e a impaciência do povo começar a se manifestar nas ruas, pela ausência das mudanças que o povo espera. Quem não aprende com os próprios erros tende a repeti-los. Alckmin é o Temer de Lula.

11/4/2022

****

ARTIGO COMENTADO

Lula com Alckmin, Bolsonaro com Ustra

Celso Rocha de Barros - Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).

Nos últimos 15 dias, os dois candidatos que lideram as pesquisas eleitorais deixaram claro suas diferenças.

Em um movimento em direção ao centro, Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que quer como seu companheiro de chapa Geraldo Alckmin, outro constituinte de 1988, superando uma disputa política de 20 anos.

Por sua vez, Bolsonaro lançou-se candidato elogiando o torturador Brilhante Ustra. Seus apoiadores celebraram o aniversário do golpe de 1964 e Eduardo Bolsonaro fez piada com a tortura de uma jornalista.

A turma de Lula tirou dezenas de milhões de brasileiros da miséria e colocou alguns milhões de pobres e negros na universidade.

A turma de Alckmin derrotou a hiperinflação que paralisou o Brasil por 15 anos e regulamentou os medicamentos genéricos.

A turma de Bolsonaro deixou morrer centenas de milhares de brasileiros sem vacina e sem uma única palavra de consolo do presidente. Montou um esquema de orçamento paralelo de R$ 16 bilhões. Ameaça diariamente a democracia. Para eles, a eleição é um plebiscito sobre o golpe.

Mesmo assim, deve haver empresários, religiosos e outros conservadores pensando: bom, eu até votaria nessa chapa, mas só se o Alckmin fosse o candidato a presidente. Bom, meu amigo, em 2018 ele era. Você votou em quem?

Garanto que se todo mundo aí do lado de vocês tivesse apoiado Alckmin em 2018, ele teria ido para o segundo turno. Teria, sem sombra de dúvida, recebido apoio do PT contra Bolsonaro. Nos anos seguintes, Lula e Alckmin teriam brigado por inúmeros motivos, mas não sobre vacina. Hoje haveria, no mínimo dos mínimos, 100 mil brasileiros a mais no mundo.

A questão é essa. A diferença entre quem acha que o superávit primário deve ser um pouco maior ou um pouco menor é muito menos importante do que a diferença entre quem defende vacina e quem defende a morte, entre quem defende Ulysses Guimarães e quem defende Brilhante Ustra.

Alguns petistas respeitáveis, como Rui Falcão e José Genoino, manifestaram posição contrária à chapa Lula/Alckmin. Respeito suas posições, mas discordo delas.

O PT está em processo de reorganização após a crise de 2016. Está se reconectando com suas bases, voltando a debater suas ideias, fazendo tudo que um partido que volta para a oposição deve fazer. Se estivesse disputando contra democratas de direita, o PT teria todo direito de passar quanto tempo quisesse arriscando perder eleição para reafirmar suas posições.

Mas disputará contra Bolsonaro, em campanha de reeleição, disposto a usar a máquina do Estado brasileiro como usou o WhatsApp na eleição passada: consultando avidamente o Código Penal para saber se ainda falta cometer algum crime.

Para derrotá-lo, e, sobretudo, para governar em caso de vitória, o PT terá que conquistar apoios nos estados e municípios. O PT não venceu as últimas eleições na maioria deles. Alckmin na chapa sinaliza para esses aliados, e para seus eleitores, que o PT está falando sério quando diz que quer conversar.

A esquerda não tem a opção de voltar para inocência dos anos 80. Naquela época, entre a esquerda e o fascismo havia a turma do Ulysses, que fez os acordos que teve que fazer. Em 2022, se a esquerda não topar ser o Ulysses, ninguém vai ser.

terça-feira, 12 de abril de 2022

O bode expiatório, a esquerda Branca de Neve e o genial Chuchu Envenenado

Alguns comentários que publiquei no Facebook


4/2

Tem gente dizendo que "a estratégia de Lula de anunciar por antecipação um vice do tal 'centro' (Alckmin) está sendo vista pela classe política como 'genial' e um golpe mortal na 'terceira via'". Só não dizem que classe política é essa. Com certeza é a turma neoliberal golpista da terceira via. Porque, do ponto de vista dessa turma, a estratégia é genial mesmo! Afinal, a terceira via está entrando dentro da primeira e logo no primeiro ou segundo ano de governo vai poder assumir a presidência sem precisar de nenhum voto! Espetacular!!!! Um blogueiro meio sem noção fez uma postagem com o título "Chapa Lula-Alckmin ARRASOU 'terceira via'. Pois eu digo que a terceira via é que está ARRASANDO. Prova disso é a felicidade com que o mercado financeiro recebe as notícias dessa aliança.


9/2

O Alckmin é malandro demais. Tá enganando o Lula e dando uma rasteira nos outros concorrentes da direita. Pega carona como vice na chapa do candidato favorito e vai conquistar a presidência sem precisar de nenhum voto, só vai ter que esperar pelo golpe e quando o golpe vier a presidência cai no seu colo, como caiu no colo do Temer. E tem gente achando que o Lula é gênio. Gênio é o Alckmin, pô! O cara é craque, foi derrotado pelo rival Dória no PSDB, mas trabalhou discretamente pra se reposicionar na disputa política e agora tá com o jogo na mão. Conseguiu embarcar num cavalo de troia, a candidatura do Lula, e a bordo desse cavalo de troia vai chegar à presidência, seu maior objetivo, pra dar continuidade à obra nefasta de Temer e Bolsonaro, que ele sempre apoiou.

15/2

Alckmin vice é AUTOSSABOTAGEM de Lula.

9/4

Lula sabe o que faz? Como Deus?

***

Alckmin vice de Lula é a esperança dos defensores da Ponte Para o Futuro.


10/4

Os bilionários e a centro direita plantaram definitivamente a terceira via dentro da primeira. Com isso, deixam Lula com duas alternativas: ou preserva a Ponte Para o Futuro ou toma um golpe nas fuças.

***

A volta da fome é resultado da política econômica implementada por Temer e Bolsonaro com o apoio do Alckmin, que ainda defende a continuidade dessa política.

A esquerda está sendo envenenada por essa aliança absurda, que cria todas as condições para o governo Lula ser sabotado e derrubado pela direita em pouquíssimo tempo. Omitir-se não é uma opção para nenhum militante de esquerda que esteja consciente do grave erro que se está cometendo.

***

Os bilionários estão imitando a Rainha Má e a maioria dos petistas tá parecendo a ingênua Branca de Neve. A diferença é que ao invés de maçã, os bilionários usam chuchu. Chuchu envenenado. E a rapaziada comendo com gosto.

***

E na categoria Bode Expiatório, o vencedor é... Bolsonaro! Melhor, impossível.

11/4

Quem contestou o resultado da eleição de 2014 não foram Bolsonaro e a extrema direita, foram Aécio, Alckmin, o PSDB e a centro direita. E foram estes mesmos, e não Bolsonaro, que derrubaram Dilma e botaram Lula na cadeia para aumentarem as chances de vitória do seu candidato na eleição de 2018, que era quem? Geraldo Alckmin! A ruptura da ordem constitucional no Brasil não começou com Bolsonaro e a extrema direita, que nem têm poder para tanto. Começou com Alckmin e sua turma da centro direita, patrocinados pelos bilionários brasileiros e estrangeiros. que foram os beneficiários únicos do programa Ponte Para o Futuro, implementado a partir do golpe. A fome que voltou é resultado desse programa que Alckmin sempre defendeu e pretende impor ao governo Lula. Se Lula resistir, será derrubado, como Dilma, e Alckmin assumirá a presidência, como Temer.