segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Indisciplina dos dirigentes trava as engrenagens da máquina partidária.

(Terceira contribuição enviada à Tribuna de Debates do 6º Congresso do PT, no site oficial do partido)

A força de um partido está na unidade de ação dos seus membros. Para haver unidade de ação é preciso que haja organização e comando centralizado. Mas é tão impossível o Diretório Nacional do PT organizar e comandar diretamente a base de filiados do partido em todo o país, quanto o Estado-Maior de um exército organizar e comandar diretamente o exército todo, sem contar com uma cadeia de comando disciplinada atuando à frente de unidades militares menores.

Os exércitos mostram que a divisão do conjunto em um certo número de partes facilita a organização e comando do todo. Clausewitz, o general autor do clássico da literatura militar Da Guerra, diz que "não há como negar que o comando supremo de um exército (e o comando de qualquer força independente) será significativamente mais simples se as ordens só tiverem que ser transmitidas a outros três ou quatro homens".

Um dos princípios básicos da administração de qualquer organização é o da divisão do trabalho, que se realiza como especialização, departamentalização e hierarquia da autoridade. No PT, a divisão do trabalho, estabelecida no seu estatuto, dá-se por dois critérios: o funcional e o territorial.

Da divisão do trabalho por função, decorre a departamentalização funcional do partido, que é a criação de departamentos especializados em atividades específicas. Estes departamentos funcionais são as secretarias de Organização, Finanças, Formação Política, Comunicação e Mobilização.

Da divisão do trabalho por território, decorre a departamentalização territorial, que é a criação de departamentos responsáveis pela atuação partidária em espaços geográficos determinados. Estes departamentos territoriais são as instâncias chamadas diretórios.

A divisão do trabalho gera também a divisão da autoridade de modo proporcional ao tamanho da responsabilidade assumida, dando origem a uma cadeia de comando chamada "hierarquia da autoridade" ou simplesmente "hierarquia". A cadeia de comando ou hierarquia do PT materializa-se na sua estrutura verticalizada de diretórios, que são investidos de autoridade proporcional à abrangência territorial das suas jurisdições. De tal modo que a autoridade no partido fica distribuída entre diretórios de 4 níveis: o nacional, o estadual ou regional, o municipal e o zonal.

Todo diretório é, portanto, ao mesmo tempo, um grau da hierarquia partidária e uma jurisdição dentro deste grau hierárquico. A posição na hierarquia corresponde ao tamanho da jurisdição. Quanto maior a jurisdição, mais alta a posição hierárquica. E isto se materializa na seguinte relação entre os diretórios de diferentes níveis, estabelecida no artigo 17 do estatuto do PT:
"As instâncias e quaisquer organismos territoriais de nível zonal subordinam-se às instâncias de nível municipal, as quais estão subordinadas às de nível estadual, que, por sua vez, se subordinam às instâncias e aos organismos nacionais."
Basicamente, portanto, a cadeia de comando do PT começa pelo Diretório Nacional, passa pelos diretórios regionais ou estaduais, em seguida pelos diretórios municipais e termina nos diretórios zonais. Concebe-se, por conseguinte, a unidade de ação do partido no país todo como a ação unificada dos diretórios regionais, sob o comando do diretório nacional; a unidade de ação do partido nos estados como a ação unificada dos diretórios municipais, sob o comando dos diretórios regionais a que estão subordinados; a unidade de ação do partido nos municípios como a ação unificada dos diretórios zonais, sob o comando dos diretórios municipais a que estão subordinados; e a unidade de ação zonal como a ação unificada dos filiados de base, sob o comando dos diretórios zonais a que pertençam.

Sobre a organização e condução de um exército, dizia o general Clausewitz que:
"Determinadas partes, como batalhões, esquadrões, regimentos e baterias são tratados como unidades que servem como blocos de construção para estruturas maiores que, por sua vez, formam o conjunto, dependendo das exigências do momento."
Assim se constrói a unidade de ação nos exércitos para uma guerra e é assim que o PT pretende construir a unidade de ação dos seus membros para a luta de classes. Parafraseando Clausewitz, determinadas partes, como diretórios regionais, municipais e zonais, devem ser tratadas como unidades que servem como blocos de construção para estruturas maiores que, por sua vez, formam o conjunto, dependendo das exigências do momento.

As menores unidades partidárias do PT são os últimos elos da cadeia de comando do partido em cada região. Nas capitais com mais de 500 mil eleitores e nos municípios com mais de 1 milhão são os diretórios zonais. E nas capitais e municípios menores são os diretórios municipais. Estas instâncias são os blocos de construção, os tijolos que precisam ser forjados para comporem as estruturas maiores do partido, que são os diretórios municipais das grandes cidades, os diretórios regionais e o Diretório Nacional.

Fabricar estes tijolos para a construção do PT significa organizar e dar coesão à base de filiados destas instâncias. E esta é uma tarefa que compete exclusivamente aos dirigentes zonais e municipais, como pontas da cadeia de comando do partido, mediante o estrito cumprimento dos deveres políticos e administrativos que o estatuto do PT lhes atribui, o que vai depender, em boa medida, do estrito cumprimento de deveres, também previstos no Estatuto, pelos dirigentes das instâncias superiores, a que eles estão subordinados.

O cumprimento de deveres pelos membros dos diretórios de todos os níveis é condição fundamental para se garantir a organização da base partidária, o comando centralizado e a unidade de ação do partido nas disputas políticas municipais, estaduais e nacionais. Infelizmente, a disciplina na cadeia de comando do PT é extremamente frouxa e, por isso, o partido não funciona como deveria.

O estatuto do PT, concebido a partir de resoluções democraticamente aprovadas nos seus congressos e encontros nacionais, trata da questão da disciplina dos dirigentes e determina a punição dos infratores, estabelecendo, inclusive, as penas. Mas estas punições dependem de decisões políticas que nunca acontecem porque falta vontade política para tomá-las. Filiados já foram expulsos do PT por insubordinação política. Mas nunca houve um caso sequer de perda de função por negligência no cumprimento de deveres administrativos indispensáveis ao funcionamento de alguma instância. Historicamente, o PT tem sido absolutamente tolerante com estas negligências, que lhe trazem enormes e evidentes prejuízos políticos. É isso que precisa mudar o quanto antes.

A disciplina da cadeia de comando é fundamental para o adequado funcionamento do partido, para permitir que ele realize a sua democracia interna em plenitude e para permitir que ele tenha uma atuação nas ruas de amplitude e vigor proporcionais às dimensões da sua imensa base social, filiada e não filiada. O PT não funciona como determina o seu estatuto porque seus dirigentes não cumprem os deveres que o Estatuto lhes atribui. A indisciplina dos dirigentes, simplesmente, trava as engrenagens da máquina partidária. E este é o maior problema do PT. Porque a melhor, a mais acertada política, não sairá nunca dos discursos se não houver um partido capaz de realizá-la. E o PT não será capaz de realizar política alguma que dependa de mobilização social se não funcionarem plena e permanentemente todos os seus diretórios, de norte a sul do país.

Silvio Melgarejo

19/12/2016

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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

6º Congresso: O desafio de envolver 1 milhão e 700 mil filiados no debate partidário.

(Segunda contribuição enviada à Tribuna de Debates do 6º Congresso do PT, no site oficial do partido)

Reunido em 10 e 11 de novembro de 2016, o Diretório Nacional do PT aprovou resolução convocando a realização do 6º Congresso Nacional do partido, nos dias 7, 8 e 9 de abril de 2017. Diz a resolução que "instrumento de reorganização, renovação, revitalização e retificação de nossas práticas internas, mas também de nossas relações com a sociedade, o 6o Congresso (...) deverá eleger as novas direções partidárias, a partir da base" e que, "além disso, em um amplo debate — aberto à participação de movimentos, estudantes, intelectuais, simpatizantes, jovens, militantes da esquerda, democratas –", deverá "atualizar nosso programa, nossa estratégia e nossas formas de organização, a fim de reafirmar nosso compromisso histórico de construir uma nova sociedade". E conclui o Diretório Nacional dizendo que "é para cumprirmos esta missão que convocamos toda a nossa militância".
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Sobre o Congresso Nacional do Partido, diz o Estatuto do PT:
Art. 126. O Partido realizará, periodicamente, Congressos Nacionais para analisar, discutir e deliberar sobre sua atuação política, sobre questões de âmbito nacional, atualização do Programa, formas de organização ou funcionamento partidário.

Art. 127. Os Congressos serão convocados pelo Diretório Nacional, a quem compete elaborar a pauta, devendo ser antecedidos de Congressos Estaduais e Municipais, conforme critérios definidos em Regulamento a ser estabelecido pelo próprio Diretório Nacional, que assegurem ampla participação das bases partidárias.
A decisão do Diretório Nacional de convocar o 6º Congresso é correta, não há o que discutir. O PT precisa realmente de um momento de reflexão profunda sobre sua atuação nos anos em que esteve à frente do governo do país, sobre o modo como ao governo chegou e sobre como deve enfrentar os gravíssimos desafios que lhe são postos pela conjuntura pós-golpe. Uma reflexão que precisa ser feita à luz dos valores, princípios e ideais que deram origem ao partido; à luz de um balanço honesto e corajoso dos resultados das escolhas que o partido fez, no campo da estratégia e das táticas; à luz da história das formas como o partido realmente organizou-se e funcionou internamente desde a sua fundação; uma reflexão, enfim, que precisa ser feita à luz de uma análise bastante realista do atual momento da luta de classes no Brasil e no mundo; para ao fim decidir qual a melhor estratégia para a disputa política dos próximos anos e como o partido deve se organizar e funcionar internamente para ser capaz de realizar esta estratégia.

Mas a esperança de um futuro melhor que a decisão do Diretório Nacional com certeza desperta traz consigo um desafio dos mais difíceis para os petistas. Porque a realização do 6º Congresso, a par de todas as boas perspetivas que abre, é na verdade mais uma prova de fogo para o PT como organização. Trata-se agora de mobilizar para participar do debate partidário um contingente de nada menos que 1 milhão e 700 mil filiados espalhados por todo o Brasil. Para se ter uma ideia do quanto isto será difícil, basta lembrar que no começo de 2013, há pouco mais de 3 anos, portanto, a direção nacional do PT decidiu lançar dois abaixo-assinados, com projetos de lei de iniciativa popular pela Reforma Política e pela Democratização da Mídia, com metas para cada um, definidas de acordo com os requisitos estabelecidos na Constituição, de um milhão e meio de assinaturas a serem colhidas. Bastava, portanto, pegar as assinaturas dos filiados do próprio partido para se atingir este objetivo. Mas o PT não conseguiu. Os abaixo-assinados logo sumiram e nunca se teve notícias de quantas assinaturas se chegou a colher.

Ou seja, o partido que não consegue mobilizar a sua base de filiados sequer para um abaixo-assinado, propõe-se agora a fazer um congresso nacional "com ampla participação" desta mesma base. E esta, com certeza, é uma missão bem mais complexa. O que significa que, para o partido ter êxito, a direção e a vanguarda partidárias vão ter que fazer um enorme esforço para superar os seus limites. Porque se mantiverem o padrão de atuação que têm tido até hoje, não poderá a participação dos filiados no congresso ser maior do que foi no caso dos abaixo-assinados fracassados.

O maior problema do PT é realmente a sua falta de poder de ação coletiva, ou seja, a incapacidade do partido de mobilizar a sua base para qualquer atividade. A falta de poder de ação coletiva é uma deficiência gravíssima porque inviabiliza não só a democracia partidária, mas também a atuação do partido nas ruas. O 6º Congresso será fortemente afetado por este problema, com repercussões inclusive na qualidade das suas resoluções, se não houver nestes meses que o antecedem uma verdadeira revolução na forma de o partido funcionar. O sucesso do 6º Congresso dependerá de uma firme decisão, do empenho e da capacidade da direção e da vanguarda do PT de solucionarem rapidamente o problema da falta de poder de ação coletiva do partido. Mas para que isto aconteça, é preciso que direção e vanguarda se conscientizem realmente da existência do problema, dos prejuízos que ele causa e da necessidade de superá-lo o quanto antes. Porque, a meu ver, infelizmente, esta consciência ainda falta.

Vejo com que interesse e profundidade a maior parte dos companheiros trata os temas relacionados à análise de conjuntura e concepção de estratégias e ao mesmo tempo o desinteresse que se tem pela organização e funcionamento do partido, a superficialidade e ligeireza com que se trata este tema, nas raras vezes em que ele é abordado. Como se a estratégia definida não dependesse, para ser realizada, do modo como o partido se organiza e funciona. Pois, eu lhes digo que depende, companheiros, depende completamente. Porque a mais acertada estratégia e as mais acertadas táticas precisam, evidentemente, de um partido capaz de operacionalizá-las, caso contrário nunca sairão do plano das boas e corretas intenções frustradas. Disso sabiam bem os generais de todos o exércitos vitoriosos da História, desde o lendário Sun Tzu. Além disso, a democracia partidária, pela qual todos dizem aspirar, também depende inteiramente da organização e funcionamento do partido. Então por que se trata com tanto desleixo este tema, com tanto desinteresse, por que se dedica a ele tão pouco tempo e atenção?

A falta de poder de ação coletiva do PT, ou seja, a incapacidade do partido de mobilizar a sua base para qualquer atividade, decorre dos problemas de organização e funcionamento do partido e, sem  a menor sombra de dúvida, representa o maior obstáculo à realização de um 6º Congresso com ampla participação dos filiados. O sucesso do 6º Congresso exige, portanto, o enfrentamento imediato, firme e persistente destes problemas de organização e funcionamento. A máquina partidária precisa funcionar como nunca para dar conta do gigantesco desafio de se envolver no debate político os mais de 1 milhão e 700 mil petistas filiados. O 6º Congresso, desde esta sua fase de preparação em que nos encontramos, deve ser encarado como um grande movimento de politização e comprometimento da base do PT com a construção do partido e com a luta pelos seus objetivos imediatos e estratégicos. Não se trata, portanto, apenas de fazer um congresso representativo, mas de incorporar efetivamente a massa de filiados ao partido para a elaboração e realização da sua política.

Um partido é uma associação e associar é somar. Quando um eleitor do PT se filia ao partido, ele afirma, com esse gesto, o seu desejo de somar, de contribuir com algo, além do voto nas urnas. O filiado é, portanto, alguém que se dispõe a ser mais do que eleitor. Ele quer participar da elaboração política e das decisões, quer contribuir financeiramente, e quer ser um trabalhador e um soldado voluntário a serviço do partido e suas causas. Ele quer realmente “fazer parte” e “fazer a sua parte”. O Pré Sal do PT é esta sua base de 1 milhão e 700 mil filiados. É dela, e só dela, que o partido pode extrair legitimamente todos os recursos humanos e materiais necessários para a implementação das suas estratégias de luta. E quem tem o dever político e a prerrogativa estatutária intransferível de extrair e administrar estes recursos é a direção partidária.

O dever da direção partidária é corresponder ao desejo do filiado de participar, acolhendo sua intenção de ajudar e absorvendo todos os recursos que ele queira e possa oferecer, para o devido emprego na realização das ações destinadas à conquista dos objetivos do partido. E a única maneira da direção partidária corresponder ao desejo do filiado de participar é cumprindo os deveres que o estatuto do PT atribui aos diretórios e garantindo o funcionamento pleno e regular destas instâncias. Não há outra alternativa senão esta para envolver a base de 1 milhão e 700 mil filiados do PT nos debates do 6º Congresso, assim como na luta contra o avanço do fascismo e do neoliberalismo no país. A disciplina dos dirigentes é fundamental, imprescindível mesmo, para a mobilização ampla da base partidária. Sem dirigentes disciplinados não se constrói uma democracia partidária de massas. E sem dirigentes disciplinados não se constrói uma organização política de milhões de combatentes ativos, um partido de massas que seja realmente militante.

Silvio Melgarejo

13/12/2016

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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Sem mídia e sem partido, nenhuma estratégia de luta é viável.

(Primeira contribuição enviada à Tribuna de Debates do 6º Congresso do PT, no site oficial do partido)

Sem mídia e sem partido, o petismo tem se mostrado absolutamente impotente para reagir aos golpes que sofre na luta de classes. A força do ideal genuíno sucumbe de forma dramática à incapacidade flagrante de construir meios para lutar por sua conquista efetiva.

O petismo até hoje não entendeu que sem meios adequados para a luta, todo combate termina em derrota e que se na guerra o meio próprio para o combate chama-se exército, na política estes meios são o partido e as mídias que o partido cria ou adquire com recursos próprios,.

O petismo é uma nação de milhões que ainda não montou o seu exército, embora fale o tempo todo de luta. E retórica que não se materializa em ação de massas não basta para se conquistar e preservar democracia e direitos, muito menos para se fazer revolução socialista.

Sem mídia e sem partido, milhões de petistas dispersos, como átomos soltos no espaço, não conseguem formar um só corpo, mantém-se uns dos outros distantes, incomunicáveis, desorientados, impossibilitados de somar as energias que os mantém em permanente e solitária agitação para a realização de qualquer ação conjunta de impacto social e político equivalente à soma das forças de todos.

Há uma vaga consciência geral de que isto ocorre, mas também um forte conformismo e o conformismo é uma atitude essencialmente conservadora.

É preciso que se entenda de uma vez por todas que o partido está para a luta política, assim como o exército está para a guerra; que não se atinge o objetivo político sem um partido, como não se atinge o objetivo militar sem um exército; e que o partido é o instrumento principal da ação política daqueles que o constituem para realizar algum projeto.

É preciso que se entenda que, por isso mesmo, a construção do PT e a administração dos seus diretórios - que são suas unidades combatentes - devem ser as principais preocupações e as principais ocupações dos petistas e que descuidar destas tarefas é renunciar na prática a qualquer possibilidade de ver realizado o projeto petista de conquistar o poder político e construir no Brasil o socialismo democrático.

O PT, como organização, é uma ficção que só existe no seu estatuto e nas resoluções dos seus congressos e encontros nacionais.

Na vida real estes documentos são permanentemente ignorados e não se materializa a concepção de partido que eles contém.

As direções partidárias não sabem o que é "trabalho de base", não sabem o que é "dever" e "disciplina", permitem e permitem-se negligenciar impunemente o cumprimento das obrigações mais elementares, razão pela qual, da maioria das instâncias, pode-se dizer que são fantasmas.

O PT é uma organização e toda organização precisa cumprir 4 condições para alcançar seus objetivos.

A primeira é definir as ações que realizará para atingir estes objetivos e os recursos que usará na execução destas ações. Isto se chama planejamento.

A segunda é determinar o papel que cada membro do partido deve desempenhar nas ações planejadas e a forma como os meios necessários para a execução de suas tarefas serão distribuídos. Isto se chama organização.

A terceira é a orientação e motivação de cada membro do partido no momento da execução de cada ação planejada. Isto se chama liderança, direção ou comando.

E a quarta é a avaliação permanente da execução de cada ação, com a possibilidade de recomendações de ajustes ou mudanças. Isto se chama controle.

Tudo isso junto - planejamento, organização, comando e controle - chama-se administração.

E nada disso tem o PT, por isso o partido não funciona e não consegue nunca transformar a sua imensa quantidade de filiados e simpatizantes numa unidade coletiva ampla e rígida, capaz de intervir no processo político do país com vigor suficiente para influenciá-lo.

O PT, como organização, não vive, apenas vegeta. É um corpo fragilíssimo, cuja alma tem sido a burocracia indisciplinada e negligente que o governa.

O petismo, como doutrina, jaz, qual letra morta, no Estatuto e nas resoluções dos congressos e encontros.

E o petismo, como movimento social, que deveria ser a verdadeira alma do PT, não pode se-lo por estar fora do partido e do partido desvinculado, em razão da inatividade das instâncias em que poderia e deveria expressar-se e da surdez dos dirigentes, quando a eles se fala através de outros canais, como a internet.

Há um verdadeiro abismo entre PT e petismo, decorrente do péssimo funcionamento dos seus diretórios, que precisa ser superado para que o PT recupere sua vocação revolucionária original e o seu potencial como agente transformador da sociedade.

E a causa fundamental do mal funcionamento destas instâncias é claramente a indisciplina dos dirigentes do partido, desde a cúpula até o último elo da cadeia de comando, responsável pela organização e mobilização dos filiados de base.

Para conciliar com a burguesia, ninguém precisa de partido organizado e mobilizado. Mas para lutar contra a burguesia, sim.

Para construir e fazer funcionar um partido burocrático, governado por poucos de forma arbitrária, ninguém precisa se organizar e mobilizar. Mas para construir e fazer funcionar um partido democrático, governado por todos os seus membros de forma solidária, sim.

Organização e mobilização exigem disciplina. E disciplina nada mais é do que o compromisso e o hábito de cumprir deveres.

Que os petistas não esqueçam disso no seu 6º Congresso.

Ante o acirramento crescente da luta de classes, no entanto, não se pode mais esperar, é preciso exigir, desde já, que os dirigentes do PT cumpram os seus deveres e passem a garantir o funcionamento pleno e regular das instâncias partidárias, para que elas organizem e mobilizem, o quanto antes, a imensa reserva militante do partido, que permanece dispersa e ociosa por falta de comando.

Dirigentes disciplinados, é disso que o PT mais precisa hoje para realizar sua democracia interna em plenitude e para ser capaz de implementar uma estratégia de confronto com a burguesia, através da mobilização das massas.

Muda, PT.

Mas tem que ser já.

Senão a História nos atropela.

Silvio Melgarejo

12/12/2016