segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Meus votos na eleição do Rio.

Filiado ao PT, no Rio Janeiro, pela primeira vez na vida não votei em candidatos do partido. Foram duas decisões dolorosas, mas muito fáceis de serem tomadas porque as razões que as justificam eram por demais evidentes e não me davam outra alternativa. Votei em Tarcísio Mota, do PSOL, para vereador, para impedir que o PT alcançasse um coeficiente partidário que permitisse a eleição de dois candidatos que suspeito serem ligados a milícias e ao mesmo tempo ajudar a aumentar a bancada de esquerda na câmara municipal. E votei em Marcelo Freixo para garantir a presença de um candidato de esquerda no segundo turno da eleição para prefeito e ao mesmo tempo derrotar o PMDB de Pedro Paulo.

As razões da minha decisão de não votar em nenhum candidato do PT na eleição para vereador estão no texto "Voto petista não pode mais eleger milicianos", postado neste blog em 29 de setembro. Exatamente como eu previa, os candidatos do PT Elton Babu e Edson Zanata ficaram nas mesmas posições que alcançaram na eleição de 2012, como 3º e 4º colocados na lista de candidatos inscritos pelo partido. Só não foram reeleitos porque o coeficiente partidário do PT, que em 2012 garantiu 4 cadeiras na câmara, caiu pela metade e desta vez só deu direito a 2. De modo que o PT foi salvo pelo próprio encolhimento e me apraz saber que muito, mas muito modestamente mesmo, contribui para isso. Porque é evidente que o PT não encolheu apenas pela falta do meu mísero voto, encolheu pela política errada que adotou ao longo de anos.

Sobre o meu voto para prefeito, a história é um pouco mais longa. Ele veio amadurecendo desde janeiro deste ano, quando publiquei neste blog o texto "PT deve apoiar Marcelo Freixo (PSOL) para prefeito do Rio. Aliança com PMDB é formação de quadrilha que hoje só serve ao retrocesso". Mas só tomei a decisão mesmo na manhã do dia da eleição. As últimas pesquisas Datafolha e Ibope divulgadas na véspera, quando, por dever de fidelidade partidária, eu ainda tinha intenção de votar em Jandira, apontavam, numa estimativa que só considerava os votos válidos (descartados brancos, nulos e indecisos), empate no 2º lugar, dentro da margem de erro, entre Freixo e Pedro Paulo. Pelo Datafolha, os dois teriam 14% das intenções de voto e pelo Ibope, entre 12 e 14%. Estaria se dando, portanto, segundo estes dois institutos, uma acirrada disputa pela segunda vaga do 2º turno contra Marcelo Crivella, entre Freixo e Pedro Paulo, enquanto Jandira ficava pra trás, em 7º lugar, pelo Datafolha, com entre 5 e 9% das intenções de voto, e em 6º lugar, pelo Ibope, com entre 4 e 10%. Se a estimativa mais otimista para Jandira era esta do Ibope que dizia ser possível ela alcançar até 10% dos votos válidos - pelo Datafolha, 9% -, no limite máximo da margem de erro da pesquisa, para Freixo a estimativa mais otimista era de que ele poderia alcançar até 18% dos votos válidos, segundo o Datafolha, e até 16%, segundo o Ibope. Pelo Datafolha, o índice de rejeição a Jandira seria de 24% e o de Freixo, 12%, enquanto o Ibope indicava 37% de rejeição a Jandira contra 20% a Freixo. Eram mais do que evidentes a superioridade do potencial de votação do candidato do PSOL e a fragilidade da nossa candidatura.

Vi-me, então, ante o seguinte dilema: dar ou não dar crédito a estas pesquisas? Optei por acreditar, porque elas correspondiam exatamente à percepção e às expectativas que eu tinha desde o início do ano. Por isso votei em Marcelo Freixo. E, vendo o resultado da eleição, não tenho dúvida de que fizemos, eu e muitos outros petistas que aderiram na última hora ao chamado "voto útil', a melhor escolha possível. Porque as pesquisas estavam certas. O candidato do PSOL derrotou o do PMDB por uma diferença mínima, de apenas 2,14% dos votos válidos, um resultado bastante apertado. Freixo teve 18,26% dos votos e Pedro Paulo, 16,12%. O candidato do PMDB teve 2,12% a mais de votos do que o previsto tanto pelo Datafolha, quanto pelo Ibope, como limites máximos das suas respectivas margens de erro, enquanto o do PSOL teve 0,26% a mais do que o previsto como limite máximo para sua votação pelo Datafolha e 1,26% a mais do que o estimado pelo Ibope. Aparentemente, esquerda e direita praticaram o "voto útil'. E, felizmente, a esquerda levou a melhor. Agora, é juntar forças para ganhar o 2º turno e conquistar o direito de governar a Cidade Maravilhosa, derrotando o candidato da burguesia e da direita corrupta e obscurantista e elegendo o candidato dos trabalhadores e de toda esquerda não contaminada pelo mal do sectarismo, do qual, não obstante, ainda padece o próprio PSOL. Sectarismo não se combate com mais sectarismo. Sou PT e fecho com Freixo.

Silvio Melgarejo

10/10/2016