segunda-feira, 23 de junho de 2025

Não se pode servir ao povo e ao mercado

A queda da aprovação ao governo Lula nas pesquisas é a mais eloquente expressão da desaprovação do povo à frente ampla e sua gestão governamental inteiramente condicionada e limitada pelo rigor fiscalista. Lula, católico, precisa urgentemente lembrar da lição cristã ensinada no Sermão da Montanha. Disse Jesus, segundo Mateus: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom".

"Senhor" é aquele a quem se obedece e serve pelo reconhecimento da sua autoridade e poder soberanos. O presidente Lula fala nos seus discursos como quem, discordando de Jesus, acredita ser possível obedecer e servir muito bem a dois senhores: ao povo e ao mercado financeiro. Mas será isto possível? A realidade dos fatos mostra que não. 


É impossível obedecer e servir bem ao povo e ao mercado financeiro porque os interesses do povo são incompatíveis e inconciliáveis com os interesses do mercado financeiro. O que o povo quer não convém ao mercado e o que mercado quer não convém ao povo. E é por isso que, na prática, o presidente acaba sempre curvando-se muito mais às vontades de um - adivinhe qual - do que às vontades do outro, confirmando a máxima cristã. 


Lula diz que quer governar para todos. Mas não dá para atender a todos da mesma forma numa sociedade como a nossa, capitalista, dividida em classes, onde uma classe, muito rica, domina e explora enquanto a outra classe, muito pobre, é dominada e explorada. As classes no capitalismo têm interesses não apenas diversos mas também antagônicos e absolutamente inconciliáveis. Quando o governo atende a uma classe, necessariamente sacrifica a outra, que reage, evidentemente, de acordo com os meios que disponha para reagir. 


A escolha de qual classe privilegiar é a decisão política mais importante que o governante precisa tomar quando inicia o seu mandato. E essa decisão é, na verdade, a despeito de qualquer discurso que ele faça, a afirmação prática e a demonstração cabal dos seus reais compromissos políticos. São as ações de governo que revelam a quem o governante verdadeiramente reconhece como seu senhor e não os seus discursos. 


Quem manda no governo Lula, vamos ser claros, é quem fala mais alto e quem mais pressiona o governo: o mercado financeiro. Porque se, de um lado, o mercado pressiona o governo, com a ameaça de retirada de investimentos, e a direita, dentro e fora do governo, grita para que o governo o atenda, do outro lado, a esquerda, que existe exatamente para representar o povo nas disputas políticas, simplesmente nega-se a cumprir esse papel e recusa-se a pressionar o governo para o atendimento das demandas populares, ao mesmo tempo em que tenta a todo custo esconder ou justificar os prejuízos que o povo está tendo por causa das generosas concessões que o governo vem fazendo ao mercado.


O mercado financeiro enriquece embolsando, sob a forma de juros da dívida pública, todo o dinheiro que o governo nega ao povo, cortando gastos sociais. O mercado faz questão de comandar o Banco Central exatamente para manter as taxas de juros em patamares ultra-elevados e garantir a transferência do maior volume possível de recursos públicos para as contas dos ricaços rentistas. Só no ano passado o governo Lula pagou R$ 1 trilhão a esses parasitas. Este ano deve pagar mais R$ 1 trilhão. E é para manter essa indecente e monumental transferência de renda para os ricos, que o governo tem se empenhado tanto em cortar gastos no orçamento destinado ao povo.


A prioridade do governo Lula vem sendo, sem sombra de dúvida, obedecer e servir bem ao mercado financeiro. Esta prioridade está muito claramente definida no Arcabouço Fiscal adotado, que - atenção - não foi criado pelo Congresso, foi criado pelo próprio governo. E é essa prioridade que o governo está dando à satisfação da ganância do mercado que está provocando a insatisfação popular crescente.


O povo pobre sente fortemente na pele os açoites do fiscalismo inclemente e já está antecipando nas pesquisas a resposta que dará nas urnas em 2026, se o governo não mudar muito rápida e radicalmente a sua política econômica, que é absolutamente indefensável para qualquer militante de esquerda realmente honesto e minimamente informado.


A maior parte da militância petista parece ignorar que o presidente Lula mandou para a Câmara Federal, no final de 2024, a proposta de  criação de um limite de 2,5% para os aumentos anuais do salário mínimo acima da inflação, chamados de aumentos reais. Essa proposta que fere gravemente o interesse, o anseio e o direito dos trabalhadores a um salário mínimo decente, de acordo com o que determina a Constituição, foi apresentada por um deputado do PT e aprovada com os votos de quase toda a bancada do partido na Câmara Federal. 


O cumprimento do Arcabouço Fiscal requer que o governo imponha este sacrifício aos trabalhadores. O PT, que tem sido mais fiel a Lula do que ao povo, ajudou o presidente a fazer essa maldade. E a militância petista, indiferente, aceita calada, quando não justifica, a traição cometida contra ela mesma e contra o povo pelo nosso presidente e pelos deputados do nosso Partido dos Trabalhadores. 


Teto de gastos para o salário mínimo e liberdade para o gasto com juros máximos é uma injustiça social evidente, escandalosa, pois penaliza ao povo pobre para favorecer a meia dúzia de ricos. Todo o dinheiro que o governo está deixando de gastar com a Previdência, por conta da poupança feita com o teto do aumento real do salário mínimo, está indo para as contas bancárias dos riquíssimos detentores de títulos da dívida pública.


É impossível justificar para o povo uma política dessas, de austeridade fiscal, sem recorrer às mentiras inventadas pelos neoliberais. Foi por insistir com essas mentiras que o PSDB terminou como está, derrotado e desmoralizado. Os petistas não podem permitir que o PT tenha esse mesmo destino. O PT não foi criado para enganar o povo. E o povo não perdoa partido mentiroso, quando percebe ou descobre a mentira. 


O papel do Partido dos Trabalhadores é representar a classe trabalhadora e organizá-la e mobiliza-la para a defesa dos seus interesses junto ao governo. Se o governo adota uma política que corresponde aos interesses da classe trabalhadora e sofre a oposição da classe rica, na imprensa e no parlamento, através da direita, o PT deve denunciar para o povo os interesses motivadores da oposição e mobilizar o povo para apoiar o governo e repudiar o assédio oposicionista. 


Mas se o governo adota uma política contrária aos interesses da classe trabalhadora, o PT deve denunciar para o povo os prejuízos que essa política lhe traz, dizer ao povo a quem essa política do governo realmente beneficia e chamar o povo a se manifestar nas ruas contra essa política antipopular do governo. Afinal, como diz muito corretamente o Manifesto de Fundação do PT, nós "somos um partido dos trabalhadores, não um partido para iludir os trabalhadores".


Ou bem Lula e PT servem ao mercado ou bem Lula e o PT servem ao povo, não dá para servirem bem aos dois. Porque o mercado são os ricos e os ricos são insaciáveis, nunca ficarão satisfeitos, sempre exigirão mais e mais e mais; e porque cada concessão que Lula e o PT fazem ao mercado é e será sempre às custas de um enorme sacrifício imposto ao povo pobre trabalhador. Não dá pra dar a um sem tirar do outro. 


Dito de outro modo: toda concessão que o governo faz ao mercado tem um preço e quem paga essa conta é o povo. Resultado: o governo desagrada a todos, ao povo e ao mercado. Como é que se sustenta um governo com uma política dessas? Não tem como sustentar, é uma política suicida. Não é atoa que a chamam de austericídio. 


A austeridade fiscal já foi rejeitada pelo povo brasileiro nas eleições de 2002, 2006, 2010, 2014, e até na eleição de 2022. Porque, vamos lembrar, na campanha eleitoral daquele ano, Lula dizia em todos palanques que, se fosse eleito, acabaria com o teto de gastos criado pelos neoliberais dos governos Temer e Bolsonaro. Infelizmente, o presidente não cumpriu essa promessa e tem dado continuidade àquela política nefasta dos seus antecessores. 


O teto de gastos não acabou. E foi por causa do teto de gastos do governo que o salário mínimo teve este ano um aumento real de apenas 2,5% em relação ao do ano passado. Foram míseros R$ 35,30 a mais. Só quem vive com salário mínimo ou tem um mínimo de empatia com quem ganha é que pode avaliar o tamanho da frustração que um aumento real desses, tão minúsculo e insignificante, provocou na classe trabalhadora mais pobre. 


A realidade é que o teto de gastos que o governo Lula se auto-impôs torna impossível para o próprio governo a realização de uma gestão que corresponda às expectativas do povo. A frustração do povo com o governo já é grande e o grande causador dessa frustração é o teto de gastos contido no Arcabouço Fiscal, criado para satisfazer apenas e tão somente à ganância insaciável dos ricaços do mercado financeiro.


A mensagem do povo nas pesquisas é bastante clara, engana-se quem faz outra leitura, diferente desta: ou Lula rejeita logo a austeridade fiscal ou será rejeitado na próxima eleição presidencial, como foram rejeitados todos os candidatos que defenderam ou realizaram esta mesma política nas eleições anteriores. Ainda há tempo para uma correção de rumo. Mas tem que ser logo, rápido. Porque a insatisfação do povo já virou desaprovação ao governo e logo se transformará em apoio à oposição bolsonarista. 


É inútil dizer ao povo que os bolsonaristas já fizeram e farão pior se voltarem ao governo. Porque o povo insatisfeito com a vida e frustrado com o governo sempre tende a votar na oposição. Depende apenas de Lula e do Partido dos Trabalhadores evitar esta tragédia, interrompendo imediatamente o austericídio que cometem. A reeleição de Lula depende do fim da austeridade fiscal e de uma valorização muito mais rápida e significativa do salário mínimo do que esta que estamos tendo. O maior problema do povo é falta de dinheiro. E 2,5% de aumento real para o salário mínimo é a preservação da miséria e um golpe mortal nas boas expectativas que o povo pobre tinha em relação a este mandato de Lula.


Pelo fim do austericídio, por um salário mínimo decente, de acordo com o que determina a Constituição, e pela reeleição do presidente Lula.


Abaixo o Arcabouço Fiscal. 


23/6/2025

domingo, 24 de novembro de 2024

Lula, diga NÃO aos AGIOTA$

18/11/2024
(Publicado no Facebook)

A batalha decisiva é contra o Arrocho Fiscal

É extraordinário que haja essa súbita empolgação que estamos vendo pela velha e esquecida causa da redução da jornada de trabalho. Mas, por favor, não vamos esquecer a luta mais necessária e urgente do momento. A espada que a classe trabalhadora tem hoje sobre a sua cabeça chama-se Arcabouço Fiscal. E essa espada, com sua lâmina muitíssimo afiada, está prestes a entrar em ação para mutilar direitos fundamentais dos trabalhadores. É preciso agir com rapidez e firmeza para evitar que isto aconteça. 

Parece que a maior parte da militância petista ainda não se deu conta de que o corte de gastos reivindicado pelo mercado financeiro nada mais é do que a condição única e indispensável para o cumprimento do Arcabouço Fiscal que o próprio presidente Lula insiste em dizer que vai cumprir. "Não deve cumprir", devemos dizer-lhe.

Porque o corte de gastos que o cumprimento do Arcabouço Fiscal requer não é um corte de gastos qualquer. É um corte estrutural, que acaba com direitos que estão na Constituição e portanto tem repercussões permanentes. 

Não nos iludamos quanto às intenções dos criadores do Arcabouço. A real finalidade do ajuste fiscal que eles preparam é fazer prevalecer na Constituição e no Orçamento Público o interesse dos ricos agiotas em detrimento dos interesses do povo.

Reduzir o percentual mínimo da receita de impostos destinada à Educação e Saúde. 

Desvincular os valores dos menores benefícios da Previdência do valor do salário mínimo.

E reduzir o ganho real da política de valorização do salário mínimo.

É disso que estamos falando, porque é disso que vem falando o ministério da Fazenda desde o ano passado. Subitamente elevada à condição de pauta prioritária da esquerda brasileira e vista com simpatia até mesmo pela centro-direita, a redução da jornada de trabalho não compensaria nem de longe as enormes perdas que o povo teria com apenas uma dessas três medidas. 

Se a luta contra a escala de trabalho 6 x 1 é uma luta pelo avanço, pela conquista de um novo direito, a luta contra o Arcabouço Fiscal é indiscutivelmente uma luta contra o retrocesso, pela preservação de direitos duramente conquistados que estão sob grave ameaça.

Por vir de onde vem, essa ameaça, é que é mesmo tão difícil, amargo e doloroso reconhecer a necessidade e urgência da luta de resistência. Mas, se não o fizermos, se não resistirmos, será pior para o povo, para a esquerda e para o próprio governo Lula. 

É preciso lutar para evitar que o presidente Lula cometa esse gravíssimo erro, dando-lhe o necessário suporte da mobilização social para que ele resista e repila energicamente às pressões que vem sofrendo.

É hora de Lula dar um basta definitivo à extorsão dos agiotas e libertar o seu governo das amarras desse Arcabouço Fiscal que o impede de corresponder às expectativas do povo.

O Arcabouço Fiscal é uma bomba relógio que está prestes a explodir. E se explodir e atingir direitos tão caros ao povo, como saúde, educação, previdência e salário mínimo, abalará fortemente à popularidade do presidente Lula e do Partido dos Trabalhadores, enfraquecendo a esquerda e abrindo caminho para o avanço sem freios da extrema-direita. 

A militância petista precisa atentar para esse enorme risco que estamos correndo e abraçar a luta contra o Arcabouço Fiscal como prioridade máxima. Porque, vamos ter claro: Ou Lula derruba o Arcabouço ou o Arcabouço poderá derrubá-lo e entregar o governo à direita unificada (centro-direita aliada à extrema-direita).

A insatisfação do povo já é grande, de acordo com as pesquisas, e vai aumentar ainda mais se o Arcabouço Fiscal for cumprido. A militância petista precisa entender que quanto maior for a insatisfação do povo, maior será o risco não só de derrota em 2026, mas também de interrupção do mandato de Lula por um golpe de Estado.

Lembremos que as condições para a deposição da presidente Dilma se tornaram ideais para a direita exatamente a partir do momento em que ela resolveu fazer um ajuste fiscal, traindo uma promessa de campanha. E olhem que aquele ajuste era muito mais leve do que este que vem sendo anunciado. Se esse ajuste fiscal do presidente Lula se confirmar, as coisas podem ficar muito mais complicadas do que já estão para ele, para o PT e para o conjunto da esquerda brasileira. O presidente não pode cometer esse erro.

Portanto é hora da militância do Partido dos Trabalhadores concentrar toda a sua atenção e toda a sua energia na mobilização da classe trabalhadora contra o arrocho fiscal que se anuncia. O futuro da esquerda e da democracia no Brasil será definido nessa dificílima batalha e em mais nenhuma outra. Ou damos ao presidente Lula o estímulo e a força necessária para ele enfrentar e derrotar os ricaços agiotas ou os ricaços agiotas vão capturar o governo, como capturaram o Banco Central, e inviabiliza-lo definitivamente como instrumento de transformação da sociedade e de promoção da melhoria de vida do povo. 

NÃO AO ARROCHO FISCAL!

ABAIXO O ARCABOUÇO DE HADDAD!

16/11/2024

Governar com a direita é governar para os ricos

9/11/2024
(Publicado no Facebook)